Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

O grupo habitual de fidalgos e galãs, damas com véus a cobrir-lhes os rostos e uma ou outra
beleza ousada que cavalgava sem máscara, arriscando-se aos malefícios do sol ou do vento,
passeava-se pelo Ring, acenando e trocando cumprimentos.
Frances sorria com graciosidade e ofereceu a mão a vários conhecidos. O coração agitou-se-
lhe no peito quando divisou o duque, montando um belo cavalo negro, a trotar na sua direção.
Discretamente, ela indicou-lhe que se afastaria das outras e iria ter com ele junto de uma árvore
a algumas jardas de distância.



  • Não tive notícias tuas desde que chegámos a acordo – sussurrou ele. – E receei que isso
    pudesse ser indicação de que tivesses mudado de ideias.
    O olhar com que ela o presenteou, longo e cheio de amor, garantiu-lhe que tal não acontecera.

  • A minha amiga Mall Howard prometeu-me que abordará o rei. Foi sua companheira de
    infância e defenderá os nossos interesses como mais ninguém seria capaz. Tudo o que podemos
    fazer agora é ter fé e esperar.
    Ele olhou em redor, assegurando-se de que não estavam a ser observados e depois beijou-lhe
    a mão.

  • Estou disposto a fazer o que quer que me peças.
    Cary Frazier escolheu aquele momento para ir procurá-la, e o duque ergueu o chapéu e
    apressou-se a partir.

  • Era o duque de Richmond? – perguntou Cary, com uma expressão matreira a insinuar-se-lhe
    nos olhos. – Parecia estar cheio de pressa para se ir embora. Presumo que não queira ser visto a
    falar a sós com a aia que o rei ama, receando que este lhe corte a cabeça! – Riu-se bem alto da
    sua própria piada, mas Frances sentiu um calafrio que nada devia ao clima severo.
    Sabia que o rei nunca se comportaria como Henrique VIII com Ana Bolena, que nunca
    enviaria os seus rivais amorosos para o cadafalso ou para a lâmina do algoz, mas havia outras
    coisas que ele poderia fazer para impedir a felicidade deles.
    Esperava que Mall não tardasse a falar com ele, pois aguardar por conhecer a reação do rei
    era assaz difícil.
    Não teria de suportar aquela incerteza durante muito mais tempo.
    Dois dias depois, Mall, que tinha tido todo o cuidado em encontrar o momento certo, decidiu
    enfrentar o rei quando este saía do camarote real do teatro. A nova atriz, Nell Gwynn,
    representava o papel de Florimel e parecia encantar de tal forma o rei que este lhe tinha dado
    uma palmada na coxa, mostrando-se mais animado do que Mall o vira nos últimos meses, desde
    as provações e tribulações que haviam assolado o reino.
    Quando a peça terminou e a dança que marcava o fim de cada representação estava a chegar
    ao fim, Mall esperou que ele saísse.

  • Vossa Majestade – dirigiu-se-lhe, fazendo uma vénia pronunciada. – Permite-me que lhe
    fale a sós?

  • Com mil demónios, Mall, para quê tanta formalidade? – replicou ele, com os seus olhos
    escuros a cintilarem com uma rara jovialidade. – Há quantos anos partilhamos esta nossa
    amizade?

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