Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

escolher entre a minha mãe avara e o seu duque despreocupado, sei qual escolheria.
Mary reparou na expressão apoquentada de Frances.



  • Não faço justiça com a minha descrição da vida em Cobham. O duque está ciente das suas
    limitações. – Sorriu à amiga. – Será apenas uma pequena sala de banquetes!
    Mais tarde, depois de Mary ter regressado a Cobham, desta feita levando a ama como
    acompanhante, soube-se que o chanceler requisitara de facto a comparência do duque e do seu
    administrador no dia seguinte, na grande mansão Clarendon, perto de St. James. Em Londres,
    todos sabiam o significado de tal convocatória. O rei procurava motivos para impedir o
    casamento e deparara-se com as finanças instáveis do duque.
    Frances estava diante da janela aberta do seu quarto. A primavera chegava à capital. Por
    entre as costumeiras emanações das tinturarias e das cervejarias, das refinarias de açúcar, das
    fábricas de velas e das inúmeras chaminés, o sol penetrava e sarapintava o rio de luz. Por todo
    o lado havia pássaros a chilrear, comunicando a partida do inverno. Uma pomba passou por
    perto, com um ramo na boca, e instalou-se num telhado diante de Frances, para fazer o seu ninho
    no meio das telhas.
    A preocupação apoderava-se dela. Teriam os pássaros do céu direito às suas casas frágeis
    enquanto ela não, por o rei a amar?
    Levantou-se, incapaz de permanecer inativa no seu quarto ou ajudar a rainha a calçar as luvas
    perfumadas enquanto todo o seu futuro era decidido por Lorde Clarendon, apenas a meia milha
    de distância.
    Frances sempre gostara do chanceler.
    Mesmo quando era uma menina em Paris, a sua figura familiar, sempre a manifestar o seu
    público desagrado para com os membros mais decadentes da corte e a recordar ao príncipe
    Carlos que um dia seria rei, fora uma visão tranquilizadora no meio dos Cavaliers
    esfarrapados, entre os quais tantos haviam perdido a honra e a dignidade.
    E, quando o rei por fim conquistara o seu trono, fora o conde de Clarendon o crítico mais
    feroz de Lady Castlemaine.
    Ele ajudara-a uma vez; fá-lo-ia de novo, se ela o visitasse e defendesse o seu caso?
    Lembrou-se do que a ama lhe dissera acerca de cada homem ser «o arquiteto do seu próprio
    destino». Sem parar, para não perder confiança, tapou o rosto com um véu, tirou o manto do
    gancho e correu silenciosamente pelas escadas das traseiras, atravessando o pátio empedrado
    em direção à fila de liteiras que aguardavam por trás do salão de banquetes. Não deixou
    qualquer mensagem para as outras aias. Quanto menos pessoas soubessem onde ia, melhor.
    Naquela cidade, os mexericos corriam mais depressa do que o lodo sob as rodas da carroça que
    transportava dejetos durante a noite.
    O liteiro depositou-a em frente aos portões da nova mansão do chanceler, perto de Piccadilly.

  • Diz-se que é a maior habitação de Londres, exceção feita ao palácio de Whitehall –
    comentou um dos homens, apoiando-se na liteira e observando os exteriores com colunatas, as
    fileiras de grandes janelas de sacada, cujas proporções elegantes tanto se distinguiam do resto
    da cidade Tudor em volta.

Free download pdf