Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

Com um apetite renovado, Barbara atacou a vasta seleção de sobremesas: bolo de ameixa
verde, manjar-branco de amêndoas, sorvete de rosas com alperces frescos das estufas do rei,
tudo acompanhado por uma taça de um licor de laranja extremamente alcoólico.
Depois de terminar, voltou-se para o grupo ali reunido e bateu palmas.



  • Vossas Majestades, damas e cavalheiros, seria uma honra se agraciassem os meus
    aposentos com a vossa presença para apreciarmos música, jogos de cartas e outros
    divertimentos.
    Dada a alta qualidade da música proporcionada por Barbara, bem como a interminável oferta
    de vinho, a sugestão foi acolhida com uma aprovação unânime.
    A rainha, que abraçara as alegrias das mesas de jogo com um entusiasmo surpreendente para
    alguém com uma educação católica tão restrita, foi uma das primeiras a levantar-se.
    O rei, parecendo esquecer o grande pecado dela, estendeu a mão a Frances.

  • Venha, Mistress Stuart, junte-se a nós para uma partida de basset e um copo de vinho.

  • Majestade, sinto a cabeça a latejar como se estivesse no interior do sino de St. Mary le
    Bow.
    A afirmação correspondia à verdade, embora, regra geral, ela tivesse ignorado o sintoma.
    Com um ar convincentemente pálido e debilitado, fez uma cortesia diante da rainha.

  • Vossa Majestade dispensa-me dos meus serviços no resto da noite?
    A rainha depressa assentiu.
    Por trás dela, Barbara sorria com malícia.

  • Pobre Mistress Stuart – comentou num tom de doçura invulgar –, talvez seja melhor
    recolher-se e recuperar os ânimos.
    Frances acenou com a cabeça, imediatamente desconfiada daquela inusitada generosidade de
    Barbara, mas ansiosa por escapar à noite interminável, trocando-a pela paz e sossego do seu
    quarto.

  • Obrigada, Vossa Senhoria, assim farei.
    A primeira indicação que teve de haver companhia inesperada proveio da camareira que
    cacarejava em frente à porta como um galo a proteger o galinheiro.

  • Oh, senhora, senhora, lamento, mas está um cavalheiro no seu quarto. Eu não sabia se devia
    chamar alguém da casa de guarda. Mas ele entrou com tanta confiança, como se o quarto fosse
    dele, que não soube o que pensar!
    Frances, ao ver o manto de montar atirado descuidadamente para cima da sua cadeira de
    cabedal com uma estrutura dourada, e sabendo desde logo a quem pertencia, não conseguiu
    evitar um sorriso.

  • Não se preocupe. Lidarei com o cavalheiro. Poderá ir deitar-se.
    A rapariga estava prestes a obedecer-lhe quando a consideração invulgar de Barbara
    regressou à memória de Frances, deixando-a desconfiada.

  • Não, fique mais um pouco. Mudei de ideias. E avise-me de imediato se ouvir estranhos a
    aproximarem-se.
    A rapariga assentiu com a cabeça.

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