- Assim farei, senhora.
A camareira sentou-se, claramente aliviada por não ter cometido uma infração imperdoável
ao ter deixado o cavalheiro entrar.
Frances entrou no quarto em silêncio e fechou a porta atrás de si.
A figura conhecida voltou-se, com os olhos a iluminarem-se ao vê-la chegar. Segurou-lhe nas
duas mãos, como se estivessem prestes a dançar. - O quê, desta vez não há narcisos? – brincou ela, animada por vê-lo.
- Esperam-te em Cobham. Viverão mais para apreciar a tua companhia se eu não os colher.
Ela riu-se daquela fantasia absurda. - Mas não vim de mãos vazias. Vê só o que te trouxe desta vez. – Levou-a até à janela. Uma
lua enorme adornava o céu, parecendo estar tão perto que ela quase poderia tocar-lhe se
esticasse a mão. - O negro Dick, que trabalha para mim nos campos e que, segundo os companheiros, tem
pouco juízo, mas que a mim me parece ter mais do que todos os outros, diz que é uma lua azul.
Parece estar mais próxima e luminosa, diz ele, do que noutras ocasiões, e dá sorte. – Virou-se
para ela. – Percebes porque prezo o bom senso dele.
Frances não teve oportunidade de responder, pois a boca dele cobriu a sua, enquanto a
apertava contra o seu corpo.
Quando finalmente a libertou, recuperara o tom trocista: - Parece que tenho a solvência necessária para te desposar.
Não sabia se o que o provocava era a preocupação com a situação em que se encontravam,
mas a cabeça de Frances começou então a latejar de forma insuportável. - Quem me dera que tudo isto estivesse terminado e que a corte pudesse esquecer-nos e às
nossas ninharias. - Nunca é uma ninharia quando nos diz respeito. Deita-te, vou acariciar-te a cabeça. É um
truque que a minha velha ama usava quando eu era pequeno, para afugentar os dragões e as
serpentes que eu imaginava que entravam no quarto.
Frances deitou-se na cama de dossel e o duque sentou-se a seu lado e começou a massajar-lhe
as pálpebras com delicadeza. - E eu que te considerava tão corajoso! – protestou ela.
- Um homem pode ser arrojado no campo de batalha e retraído no quarto.
- Não com a companhia certa, espero – respondeu ela num tom sedutor.
- Será esta a Mistress Stuart tão célebre pela sua inocência virginal?
- Eu nunca tive tal pretensão! – reclamou Frances, enquanto ele se debruçava e tornava a
beijá-la.
No corredor, teve início uma grande agitação e a porta abriu-se por completo.
O rei estava à entrada, com a camareira chorosa um ou dois passos atrás dele; o rosto do
monarca ficara tão pálido como o de um fantasma vingativo. - Então era por isto que não podia suportar a minha companhia e tinha de se recolher ao seu
quarto.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1