Frances soltou uma risada de felicidade pura.
- Que se dane o recato virginal! Então onde se escondeu o meu herói e salvador, quando
desejo agradecer-lhe? - Está lá em baixo com o vigário. É o dia do vosso casamento, Frances.
Frances saltou e abraçou a jovem. - Estou tão contente por ir testemunhá-lo, Mary. Não terei comigo nem o meu pai nem a minha
mãe, nem sequer a minha irmã Sophia ou o meu irmão Walter. A Mary será toda a minha família!
Lembrou-se de ter partido de mãos vazias, sem sequer uma muda de roupa que pudesse
envergar para se casar. - Bem, serei uma noiva simples e prática, pois nada trouxe comigo. Terei de casar usando o
vestido com que fiz a travessia do rio e a viagem de carruagem. - É um vestido lindíssimo e realça-lhe o brilho dos olhos e o dourado do cabelo – consolou-a
Mary. - E desvia as atenções do meu esplêndido nariz romano!
- Preparei-lhe alguns adornos – disse Mary num tom tímido. – Vista o vestido enquanto vou
buscá-los.
Ela enfiou o vestido por cima do camiseiro e abotoou os pequenos botões de pérola que o
fechavam, enquanto ia pensando se já teriam dado pela sua falta. Barbara nunca admitiria a
injúria que sofrera, mas não deixaria de soltar o seu veneno o melhor que sabia.
Mary regressou com uma almofada na qual dispusera uma tiara de flores primaveris e um
buquê preso com uma fita cor-de-rosa. - Serei como a rainha de maio!
- Eles já a esperam lá em baixo – disse Mary, colocando-lhe a tiara na cabeça.
Lágrimas acorreram aos olhos de Frances, ao pensar que os pais e o resto da família nem
sequer sabiam que ela estava a dar aquele passo. Lembrou-se do adágio da ama, acerca de cada
pessoa dever ser o arquiteto do seu próprio destino, limpou os olhos e segurou no bouquet. - Está pronta? – perguntou-lhe Mary.
Frances assentiu com a cabeça e seguiu-a pela larga escadaria de madeira, com as coroas
ducais gravadas nos pilares, em direção ao salão principal.
Ficou comovida ao ver que toda a criadagem fora reunida, os moços da cozinha e o negro
Dick, bem como Roger Payne, o administrador do duque, Henry Flaxney, o subadministrador, os
criados, a cozinheira e a camareira.
E, ao fundo do salão, diante da grande lareira, na qual crepitavam chamas vivas, estava o seu
noivo, sorrindo com tanto orgulho que, de súbito, ela perdeu todas as dúvidas,
independentemente do que o futuro pudesse reservar-lhes.
Ele estendeu-lhe uma mão num gesto carinhoso. - As flores ficam-te melhor do que quaisquer joias.
O pastor perguntou quem levaria a noiva ao altar.
Quando Roger Payne deu um passo em frente, outra onda de tristeza assaltou Frances por não
ser o seu pai a fazê-lo, mas a alegria nos olhos do noivo depressa a tranquilizou.