Frances Stuart não passará de um rumor do dia anterior.
Frances suspirou.
- Quem me dera haver algum lugar para onde eu pudesse ir, um local onde nada importasse e
eu pudesse esquecer a corte e tudo o que aqui acontece. - Tal não é o seu destino, nem o meu. – Mall riu-se com alguma amargura. – Vivi na corte
durante a maior parte da minha vida. Até nasci aqui. - Mas... e Cobham Hall? Não viveu lá em tempos, com o seu marido James e os vossos
filhos?
A dor ensombrou os olhos de Mall, que pensava no que perdera; ela apressou-se a desviar o
olhar. - Isso foi há muito tempo. Mas, sim, fui feliz lá. Aquelas velhas paredes de tijolo protegem-
nos bem do mundo cruel. – Abanou-se. – Mas tudo não passou de um sonho passageiro. Não era
tão sólido quanto parecia. E agora o seu Charles Stuart, de quem o papagaio tanto gostou, mora
lá e é também duque de Richmond. Sim, é um mundo estranho. Venha, entremos. O jantar será
servido e o falatório será maior se não comparecermos.
Como a língua que procura o dente dolorido, os seus pensamentos regressavam àquele mundo
protegido pelas paredes reconfortantes de Cobham. Era curioso que tantos ansiassem por viver
na corte e a considerassem o coração pulsante do universo, enquanto ela ansiava pela calma e o
sossego de uma vida feliz no campo.
Afastando aqueles pensamentos dolorosos, Frances seguiu Mall para o movimentado e
barulhento átrio. À medida que avançavam, o silêncio foi-se instalando, perdurando até
chegarem à mesa das aias, onde Cary Frazier e Elizabeth Hamilton se apressaram a desviar-se
para lhes dar espaço.
Ao fim de alguns minutos, o burburinho recomeçou, fervilhando como era costume com
boatos, intrigas e escândalos – e, esperava ela, nem todos a seu respeito.
Terminada a refeição, estavam prestes a levantar-se e a regressar aos aposentos da rainha
quando o irmão de Mall, o célebre duque de Buckingham, se aproximou delas, distinto como
sempre com o seu andar meneado pleno de confiança e a sua extravagante peruca loura. De
repente, deixou-se cair sobre um joelho e beijou a mão a Frances. - Bela senhora, nunca antes se celebrou a virtude neste local amoral. Talvez a sua integridade
nos sirva a todos de exemplo.
Frances sorriu, ignorando a ferroada que se ocultava no comentário do duque, que era um dos
proponentes principais da famosa imoralidade da corte. - E quanto ao seu comportamento, senhor? – perguntou ela, numa voz doce como o mel. –
Tem tanto mais a expiar do que eu. Seria um exemplo muito melhor se o senhor emendasse o seu
caráter.
Isto provocou uma gargalhada portentosa atrás deles. - Ela tem razão, George. Se o duque, mais do que qualquer outro, descobrisse a virtude,
todos os presentes lhe seguiriam o exemplo. - Sim, Majestade – respondeu George Villiers, a abanar a cabeça –, mas há velas que não