que ela contagiasse o duque por si. – A ideia provocou-lhe uma grande gargalhada.
Com Fox Hall para trás, passaram por Barn Elms, onde havia uma antiga mansão que o rei
gostava de frequentar, aproveitando para nadar com o irmão, e que também servia de popular
terreno de duelos.
- Sua Majestade odeia duelos – contou-lhe Barbara. – Mas nunca conseguiu pôr fim ao hábito
que os seus cortesãos têm de se matarem uns aos outros. Diz que não pode culpá-los, já que
alguns são verdadeiros rufiões, no entanto, queixa-se ele, não tivemos derramamento de sangue
que chegue, sem que seja necessário aumentá-lo?
Frances sorriu. Quase conseguia ouvir o tom ligeiro, ainda que fatigado, do rei nas palavras
de Barbara. Apesar do que se dizia acerca dele – que só se importava com o prazer e
negligenciava o dever de guiar o país – Carlos era humano.
Por fim alcançaram Richmond, onde o tio de Barbara vivia numa elegante casa senhorial
junto à margem do rio, com jardins que se espraiavam até aos degraus de madeira onde pararam
e ancoraram. - Venha, o meu tio terá deixado viandas preparadas no pavilhão de banquetes.
Frances seguiu-a por um caminho de lajes ladeado por arbustos de alfazema, nos quais as
abelhas zumbiam, felizes por verem o sol depois de uma primavera tão longa e fria. Os
primeiros botões de rosa, que surgiam por entre uma latada de madeira, rodeavam-nas numa
beleza perfumada. Os canteiros ostentavam cores garridas. E por todo o lado se ouviam
pássaros a cantar. - É perfeito, minha senhora. Que afortunado é o seu tio, por ter este lugar.
- Ah! Eu ficaria entediada no espaço de uma semana. Venha, comamos. O meu tio sabe
preparar uma boa mesa. – Virou-se e presenteou-a com um sorriso misterioso. – E depois de se
saciar com tartes e doces, tenho uma surpresa melhor.
Frances retesou-se, voltando a sentir toda a reserva anterior. - Então, minha senhora, não haverá mais charadas com monarcas libidinosos. Como ele lhe
disse, curou-o de pensamentos ignóbeis. Está praticamente um santo, o que é uma pena.
Frances riu-se a contragosto, perante a ideia improvável de o rei se transformar num homem
pio.
O pavilhão de banquetes era uma pequena joia, feita de tijolo suave com janelas arqueadas e
torres elegantes, fazendo lembrar a Frances a casa de bonecas que tivera na infância e de que
tanto gostara. Estava quase suspenso sobre o rio, ao fundo de um prado cheio de flores
silvestres. Barbara abriu uma gelosia. - Veja, dá para pescar sem se abandonar a mesa!
Dentro daquele espaço, havia lugar apenas para uma mesa e dez cadeiras, cada uma delas
almofadada numa cor diferente, todas de pedras preciosas: rubi, ametista, esmeralda, safira,
âmbar, água-marinha, selenite, opala. Sentia-se uma fragrância estonteante de jasmim, que
provinha de cortinas de pequenas flores brancas que cobriam quase por completo uma das
paredes do pavilhão. Havia velas acesas apesar de o sol ainda estar bem alto, o que contribuía
para dar ao local uma sensação de pertencer a outro tempo.