— Alguém precisa entregar o dinheiro do resgate. — Ele fez uma
pausa. — E depois trazê-la de volta.
Chiara estreitou os olhos, que pareceram escurecer um pouco. Aquilo
nunca era um bom sinal.
— Tenho certeza de que o primeiro-ministro consegue achar outra
pessoa.
— Eu também. Mas receio que ele não tenha muita escolha.
— Por quê?
— Porque os sequestradores fizeram uma ultima exigência hoje.
— Você?
Ele assentiu.
— Se não há Gabriel, não há garota.
Apesar de já estar tarde, Chiara queria cozinhar. Gabriel sentou à
pequena mesa da cozinha, com uma taça de vinho ao lado do cotovelo, e
recontou sua jornada após deixá-la em Jerusalém. Em qualquer outro
casamento, a esposa certamente teria reagido com incredulidade e assombro
a uma história daquelas, mas Chiara parecia ocupada com a preparação dos
legumes e das ervas. Ela só ergueu os olhos da pia uma vez — quando
Gabriel falou da cela vazia na casa no Lubéron e da mulher que tinha
morrido em seus braços. Ao término, Chiara encheu a palma da mão com
sal, despejou um pouco na pia e jogou o que sobrou numa panela de água
fervente.
— E, depois de tudo isso, você decidiu fazer um passeio à meia-noite
por South Kensington — disse ela.
— Eu pensei em fazer uma coisa muito tola.
— Mais tola do que concordar com uma entrega de 10 milhões de
euros de resgate para os sequestradores da amante do primeiro-ministro
britânico?
Gabriel ficou em silêncio.
— Quem mora na Victoria Road, 59?
— Os pais de Keller.
Chiara estava prestes a perguntar para Gabriel por que ele tinha ido
até lá, mas então entendeu.
— O que diabos você teria dito para eles?
— Esse é o problema, não é?
Chiara pôs vários cogumelos no centro da tábua de corte e começou
a fatiá-los com precisão.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1