A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Prossiga.
Os cabos de energia ficaram para trás, o sinal melhorou.
— Onde você está?
— Aproximando-me do trevo da A216.
— Prossiga.
Quando apareceram as luzes de Calais, Gabriel resolveu não esperar
mais pelas indagações: passou a fazer um comentário contínuo sobre seu
paradeiro, apenas para quebrar o monótono ritmo de perguntas e respostas
das instruções.


Houve silêncio do outro lado da linha, até que Gabriel anunciou
estar se aproximando do desvio para a D243.
— Pegue a saída — ordenou a voz, embora a entonação tenha saído
mais como uma pergunta do que uma ordem.
— Para que lado?
A resposta veio alguns segundos depois: ele deveria seguir para o
norte, rumo ao mar.
A cidade seguinte era Sangatte, um amontoado de casebres de pedra
varridos pelo vento que pareciam ter sido arrancados do interior britânico e
jogados na França. Dali, a voz mandou-o seguir mais para oeste, ao longo do
canal da Mancha, passando pelas comunas de Escalles, Wissant e
Tardinghen. Houve intervalos de vários minutos sem instruções. Gabriel não
podia ouvir nada do outro lado da linha, mas sentia estar se aproximando do
fim. Decidiu que era hora de forçar a barra:
— Quanto falta?
— Você está chegando.
— Onde ela está?
— Em segurança.
— Já passou tempo demais — disse Gabriel, ríspido. — Você viu o
dinheiro, você sabe que não estou sendo seguido. Vamos acabar logo com
isso, para que ela possa ir para casa.
Fez-se silêncio na linha. Então, a voz perguntou:
— Onde você está?
— Passando por Audinghen.
— Você já consegue ver a rotatória?
— Espere — disse Gabriel, fazendo uma curva na estrada. — Sim,
agora posso vê-la.

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