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TIBERÍADES, ISRAEL
Era noite de sabá. Shamron os convidara para jantar em sua casa em
Tiberíades. Na verdade, não era um convite, que poderia ser polidamente
recusado, mas uma ordem gravada em pedra, inviolável. Gabriel passou a
manhã tomando as providências para enviar a pintura a Julian Isherwood
em Londres. Depois, cruzou Jerusalém para buscar Chiara no Museu de
Israel. Enquanto percorriam em alta velocidade o Bab al-Wad — uma
espécie de desfiladeiro escalonado que liga Jerusalém à Planície Costeira —,
militantes palestinos na Faixa de Gaza dispararam uma barragem de
foguetes que atingiu Ashdod, no norte. O ataque causou apenas pequenos
danos, mas complicou o tráfego na estreita faixa central do país no momento
em que milhares de trabalhadores corriam para casa para celebrar o sabá. Era
bom estar em casa de novo, pensou Gabriel, e aguardou uma hora para que
os carros andassem.
Quando enfim alcançaram a Planície Costeira, seguiram ao norte
para a Galileia, e depois ao leste por uma fieira de aldeias e vilarejos árabes,
até chegar a Tiberíades.
A casa cor de mel de Shamron ficava a alguns quilômetros da cidade,
num precipício com vista para o lago. Para alcançá-la, era necessário subir
por uma estrada bastante íngreme. Quando Gabriel e Chiara chegaram,
foram recebidos por Gilah. Shamron estava em pé na frente da televisão, ao
telefone. Seus óculos feios de metal estavam apoiados na testa e ele
pressionava a ponte do nariz com o polegar e o indicador. Se um dia lhe
erigissem uma estátua, pensou Gabriel, ela seria esculpida nessa pose.
— Com quem ele está falando? — perguntou Gabriel a Gilah.
— Com quem você acha?
— Com o primeiro-ministro?
Gilah assentiu.
— Ari acha que devemos retaliar. O primeiro-ministro não está tão
certo disso.
Gabriel entregou uma garrafa de vinho a Gilah, um Bordeaux tinto
das colinas da Judeia, e beijou-a na bochecha. Era macia como veludo e
tinha aroma de lilases.