Vladimir Putin nunca manteve segredo sobre o que a energia significa para
a nova Rússia. Na verdade, o Kremlin declarou em um documento de
estratégia de 2003 que “o papel do país no mercado de energia global
determina em grande parte sua influência geopolítica”. O governo,
sabiamente, suavizou a linguagem para falar da importância do setor de
energia russo, mas os objetivos permanecem os mesmos. Sem seu império e
militarmente fraca, a Rússia pretende ganhar poder no cenário mundial
com petróleo e gás em vez de armas nucleares e ideologia marxista-leninista.
Além disso, os gigantes estatais de energia não estão satisfeitos em operar
apenas dentro da Rússia, onde a produção dessas commodities já se
estabilizou. Eles passaram a adquirir ativos de upstream e downstream como
parte do estratagema para se tornarem participantes reais do mercado de
energia global. Em suma, a Rússia está tentando se transformar na Arábia
Saudita euroasiática.
A gigante estatal russa Gazprom é a maior companhia de gás do
mundo e suas receitas são a fonte de grande parte do orçamento federal
anual do Kremlin. Muitas das antigas repúblicas soviéticas recebem todo o
gás natural da Rússia, assim como a pequena Finlândia. Mais de quarenta
por cento do produto da Alemanha vêm da Rússia; já na Áustria, a
porcentagem chega a oitenta. Enquanto o avanço na tecnologia de
perfuração leva mais gás ao mercado internacional, os gasodutos que ligam a
Europa e a Rússia ajudam a garantir a posição dominante da Gazprom nos
próximos anos. E seus muitos clientes europeus devem lembrar que a
empresa operou como instrumento de repressão política em 2001, quando
comprou a NTV, a única opção de transmissão nacional independente e
uma feroz crítica de Putin e do Rússia Unida. Agora, a perspectiva editorial
da NTV é seguramente pró-Kremlin.
Após um breve período como primeiro-ministro, Putin foi eleito para
um terceiro mandato como presidente da Rússia em março de 2012. Ex-
agente da KGB, encontra-se em posição para governar, pelo menos, até 2024
— período maior do que Leonid Brejnev e quase tão longo quanto o de
Joseph Stálin. Obviamente, nem todos os russos apoiam seu apego ditatorial
ao poder, porém cada vez mais vozes da oposição estão sendo silenciadas, às
vezes de forma violenta. Em novembro de 2009, Sergei Magnitsky —
advogado e contador moscovita que fez acusações de desfalque a policiais e
funcionários da receita federal — morreu de repente numa prisão russa, aos
37 anos. O incidente provocou condenação e sanções dos Estados Unidos.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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