esbranquiçados pelo mar. Apenas os olhos azuis pareciam iguais. Eram os
mesmos que haviam observado Gabriel com tanta atenção quando ele
recontara a morte de Abu Jihad. Os mesmos que, certa vez, em outra época,
lhe concederam clemência numa noite chuvosa em Veneza.
— Eu lhe ofereceria um almoço — disse Keller, com seu sotaque
britânico claro —, mas fiquei sabendo que você comeu no Chez Orsati.
Quando Keller estendeu a mão, os músculos de seu braço se
contraíram sob o casaco branco. Gabriel hesitou por um instante antes de
cumprimentá-lo. Cada aspecto de Keller, desde as mãos potentes até as
pernas poderosas, parecia ter sido projetado especificamente para matar.
— O que o don disse? — perguntou Gabriel.
— O suficiente para eu saber que não deveria chegar perto de um
homem como Marcel Lacroix sem reforços.
— Então você o conhece?
— Uma vez ele me deu carona.
— Antes ou depois?
— Os dois. Lacroix passou um tempo no Exército francês. E também
em algumas das piores prisões do país.
— E isso deveria me impressionar?
— “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa
temer o resultado de cem batalhas.”
— Sun Tzu — completou Gabriel.
— Você citou essa passagem durante sua palestra em Tel Aviv.
— Então você estava prestando atenção, afinal.
Gabriel passou por Keller e entrou na ampla sala da casa. A mobília
era rústica e, assim como Keller, coberta de tecido branco. Todas as
superfícies estavam revestidas por pilhas de livros e as paredes tinham
várias pinturas de qualidade, incluindo trabalhos menos conhecidos de
Cézanne, Matisse e Monet.
— Nenhum sistema de segurança? — perguntou Gabriel, passando
os olhos pela sala.
— Não é necessário.
Gabriel se aproximou do Cézanne, uma paisagem pintada nas colinas
perto de Aix-en-Provence, e passou a ponta do dedo com delicadeza pela
tela.
— Você está se saindo muito bem, Keller.
— Dá para pagar as contas.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1