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AIX-EN-PROVENCE, FANÇA
A cidade antiga de Aix-en-Provence — fundada pelos romanos,
conquistada pelos visigodos e embelezada por reis — pouco se parecia com
Marselha, sua vizinha ao sul, que tinha drogas, crimes e um bairro árabe
onde mal se falava francês. Aix tinha museus, shoppings e uma das
melhores universidades do país, e seus residentes tendiam a olhar de nariz
empinado para os moradores de Marselha. Eles raramente visitavam a outra
cidade, em geral só para usar o aeroporto, e saíam o mais depressa possível,
torcendo para conseguirem manter todas as suas valiosas posses.
A principal via pública de Aix era a Cours Mirabeau, uma avenida
longa e larga repleta de cafés e sombreada por duas fileiras paralelas de
plátanos frondosos. Ao norte, havia um emaranhado de ruas estreitas e
pequenas praças conhecido como o Quartier Ancien. Era uma área voltada
principalmente para pedestres, e só as ruas largas ficavam abertas ao
trânsito de veículos motorizados. Gabriel fez uma série de manobras
aprendidas no Escritório para verificar se estava sendo seguido. Depois de se
certificar de que estava sozinho, dirigiu-se para uma pequena praça
movimentada. No centro, ficava uma coluna antiga encimada por um
capitel romano e, no canto sudeste, parcialmente obscurecido por uma
frondosa árvore, o Le Provence. Havia algumas mesas na praça e outras ao
longo da Rue Espariat, onde dois velhos estavam sentados com o olhar
perdido e uma garrafa de pastis entre eles. Era um lugar frequentado mais
por moradores do que turistas, pensou Gabriel. Um lugar onde um homem
como René Brossard se sentiria à vontade.
Já no café, Gabriel foi até a seção de tabacaria e pediu um maço de
Gauloises e um exemplar do Nice-Matin. Enquanto esperava o troco,
analisou o interior para se certificar de que havia apenas uma entrada.
Depois, saiu para escolher um posto fixo de observação que lhe possibilitasse
ver as mesas de ambos os lados do exterior do restaurante. No momento em
que avaliava suas opções, dois adolescentes japoneses se aproximaram e
perguntaram, num francês terrível, se Gabriel poderia tirar uma foto deles.
Gabriel fingiu não compreender. Ele se virou e percorreu a Rue Espariat,
passando pelos dois homens da Provence e caminhando em direção à praça