A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Delaroche envergou um boné de basebol com o nome de um cigarro americano e,
apesar do mau tempo, os óculos-de-sol Ray-Ban.
A Comunidade Europeia tornou mais fácil a vida do terrorista internacional
pois, uma vez no interior de um Estado membro, a passagem para outro é feita
quase sem riscos. Delaroche e Astrid entraram no Reino Unido com passaportes
holandeses, fazendo-se passar por turistas solteiros, tendo apenas de se submeter a
uma inspeção superficial dos documentos, levada a cabo por um agente britânico
enfadado. Mesmo assim, Delaroche sabia que as forças de segurança britânicas
gravavam em vídeo todos os passageiros que entravam no país,
independentemente do passaporte apresentado. Sabia que ele e Astrid tinham
acabado de deixar as primeiras pegadas.
Quando Delaroche e Astrid embarcaram no comboio na estação de
Harwich, a noite tombara já sobre a costa inglesa. Noventa minutos depois,
chegavam a Londres. Como base de operações, Delaroche escolheu um pequeno
apartamento de serviço em South Kensington. Alugou-o por uma semana a uma
empresa que se especializava em casas para turistas. A primeira ação foi cancelar o
aspeto de "serviço" do negócio. Não precisava de uma empregada a meter o nariz
nas suas coisas. O apartamento era modesto mas confortável, com uma cozinha
totalmente funcional, uma sala grande e um quarto separado. A linha telefônica era
direta, sem telefonistas envolvidas, e a casa tinha janelas grandes que davam para a
rua.
Não perderam tempo. O alvo era um agente do MI6 chamado Colin Yardley,
um antigo operacional de campo de cinquenta e quatro anos que servira na União
Soviética, no Oriente Médio e, nos últimos tempos, em Paris, e que aguardava a
reforma compulsiva a fazer serviço de secretária na sede. Enquadrava-se no perfil
de muitos agentes dos serviços secretos no fim da carreira: esgotado, amargo,
divorciado. Bebia demasiado e envolvia-se com inúmeras mulheres. O
Departamento de Pessoal do MI6 dissera-lhe, sem rodeios, para acabar com isso.
Yardley dissera aos lacaios do Pessoal que se danassem. Estava tudo no relatório de
Delaroche. Seria fácil matá-lo. O desafio era matá-lo da forma correta.
Apesar dos anos passados em campo, desde que regressara a Londres
Yardley tornara-se preguiçoso e descuidado. Apanhava todas as noites um táxi
desde a sede do MI6 à beira rio até um restaurante e bar em Sloane Square. Era aí o
seu terreno de caça: jovens atraídas pela sua boa aparência madura, divorciadas
abastadas do West End, esposas aborrecidas em busca de uma noite de sexo
anônimo. Chegou poucos minutos depois das seis e instalou-se no seu lugar
habitual no bar.
Astrid Vogel estava à sua espera.

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