A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

FRONTEIRA ESTADOS UNIDOS-CANADÁ


Delaroche esperou pela luz da alvorada. Encontrara um local isolado na
floresta, bastante distante da auto-estrada a sul de Montreal, a cerca de cinco
quilômetros da fronteira. Astrid dormia a seu lado, no banco traseiro do Range
Rover., tapada com um pesado cobertor de lã, o corpo enroscado para se proteger
do frio. Implorara a Delaroche que, de vez em quando, ligasse o aquecimento, mas
ele recusou, pois queria silêncio. Tocou-lhe nas mãos enquanto ela dormia. Estavam
geladas.
Às seis e meia levantou-se, serviu-se de café de um termo e preparou uma
grande tigela de papas de aveia. Astrid surgiu dez minutos depois, envolta numa
parka e com um chapéu de lã.
─ Serve-me um pouco de café, Jean-Paul ─ pediu, segurando o mingau de
aveia e comendo o que restava.
Delaroche colocou aquilo de que necessitavam em duas pequenas mochilas.
Entregou a mais leve a Astrid e pôs a outra ao ombro. Colocou a Beretta na cintura
das calças, à frente. Revistou rapidamente o veículo de uma ponta à outra, para se
certificar de que não tinham deixado nada que pudesse identificá-los. O Range
Rover seria deixado para trás. Estaria outro à espera deles no lado americano da
fronteira.
Caminharam durante uma hora pelas arestas montanhosas acima de Lake
Champlain. Poderiam ter feito a travessia permanecendo junto à margem gelada
do lago, mas Delaroche pensava que ficariam demasiado expostos. Dois pares de
sapatos de neve tinham ficado no
Range Rover, mas Delaroche julgou ser melhor usarem apenas botas de
caminhada, uma vez que o solo jazia poucos centímetros abaixo da neve congelada.
Astrid subia e descia as encostas e atravessava o arvoredo denso com grande
esforço. Era ligeiramente desajeitada e inábil na melhor das circunstâncias. O
corpo longo era completamente inadequado aos rigores das caminhadas na
montanha em pleno Inverno. Chegou a escorregar por uma encosta abaixo e
acabou por parar de barriga para cima, com as pernas estateladas de encontro a
uma árvore. Delaroche não tinha a certeza de quando exatamente tinham deixado o
Canadá e entrado nos Estados Unidos. Não existiam quaisquer delimitações
fronteiriças, quaisquer vedações, qualquer vigilância eletrônica visível, fosse de que
espécie fosse. Quem o contratara escolhera bem o local. Delaroche recordou-se de
uma noite, há muito tempo, era ainda jovem, em que entrara no Ocidente, da
Checoslováquia para a Áustria, acompanhado por dois agentes do KGB. Lembrava-

Free download pdf