A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

─ Tenho de falar com você sobre o meu trabalho ─ disse Michael sem aviso
e, mesmo no crepúsculo, Elizabeth pôde ver que a expressão do companheiro se
tornara inesperadamente séria. O trabalho dele incomodava-a desde há semanas.
Considerava estranho que nunca o abordasse, a menos que ela o questionasse.
Também a perturbava o fato de ele não lhe telefonar durante o dia e de nunca a ter
convidado para almoçar. Quando lhe ligava para o gabinete, uma mulher atendia o
telefone e registrava a mensagem, mas era sempre uma mulher diferente. Por vezes
passavam-se horas até que ele telefonasse de volta. Quando o fazia, nunca podia
falar mais do que um minuto ou dois.
─ Não sou, nem nunca fui, consultor internacional ─ começou por dizer. ─
Trabalho para a CIA. Fui obrigado a te enganar até ter a certeza de que podia
confiar em você. Elizabeth, você tem que compreender que nunca quis magoar
você...
Elizabeth esbofeteou-o.
─ Seu filho da mãe! ─ gritou, tão alto que um bando de gaivotas que estava
na praia alçou voo sobre a água. ─ Mentiroso de merda! De manhã te levo ao ferry-
boat. Pode apanhar o ônibus para a cidade. Nunca mais quero ver você. Maldito
seja, Michael Osbourne!
Ficou na praia até que o frio a forçou a entrar. O quarto estava às escuras.
Entrou sem bater e encontrou-o deitado na cama. Despiu-se em silêncio e encostou
o corpo no dele. Michael tentou falar, mas ela cobriu os lábios dele com a boca e
disse: ─ Agora não. É proibido falar. Mais tarde, murmurou: ─ Não me interessa
quem você é, nem o que faz para ganhar a vida. ─ Acariciou-lhe o peito com os
lábios. ─ Amo a pessoa que está aqui dentro, e não quero te perder.
─ Desculpe não ter contado antes. Não podia.
─ Seu nome é mesmo Michael Osbourne?
─ Sim.
─ Já matou alguém?
─ Não. Só nos filmes é que matamos pessoas.
─Já viu alguém ser morto?
─ Sim.
─ Pode falar sobre isso?
─ Não, ainda não.
─ Nunca mais vai me mentir, não é, Michael?
─ Nunca vou mentir, mas há coisas que não poderei contar. Pode viver com
isso?
─ Ainda não sei, mas prometa que nunca vai me mentir.
─ Nunca vou mentir.

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