A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

com suas trompas... A fertilização artificial pode ajudar... Só podemos ter certeza se
tentarmos... Sinto muito, Elizabeth...”
Quase foi atropelada no lusco-fusco. Elizabeth pareceu nem reparar quando
o condutor buzinou e voltou a arrancar. Tinha vontade de chorar. Apetecia-lhe
vomitar. Pensou em fazer amor com Michael. O casamento tinha as suas falhas,
demasiado tempo afastados, demasiadas distrações causadas pelo trabalho, mas na
cama eram perfeitos. O ato do amor era familiar, mas excitante. Conheciam bem o
corpo um do outro, e sabiam como se dar prazer mutuamente. Elizabeth sempre
imaginara que quando estivesse pronta para ter um filho, isso aconteceria de forma
tão natural e agradável como fazer amor. Sentia-se traída pelo corpo. O Mercedes
estava sozinho a um canto do estacionamento. Procurou as chaves no bolso.
Apontou o controle remoto e pressionou o botão. As portas destrancaram-se e as
luzes acenderam-se. Entrou rapidamente, fechou a porta e voltou a trancá-la.
Tentou enfiar a chave na ignição, mas as mãos tremiam-lhe e as chaves caíram ao
chão. Ao tentar agarrá-las, bateu com a cabeça no painel. Elizabeth Osbourne
acreditava na compostura: na sala de audiências, no escritório, com Michael. Nunca
deixava que as emoções a dominassem, nem mesmo quando Sam Braxton dizia
uma das suas piadas. Mas, naquele momento, sozinha no carro, com o cabelo
colado à face, a compostura abandonou-a. O corpo tombou lentamente até a cabeça
ficar apoiada no volante. Foi então que as lágrimas chegaram e começou a chorar.


WASHINGTON, D. C.


Vinte minutos depois, na zona da cidade conhecida como Kalorama, um
sedan preto da Casa Branca parou junto ao passeio. Os carros e as limusinas pretas
do governo eram habituais naquele bairro. Aninhada nas colinas arborizadas no
extremo de Rock Creek Park, a norte da Massachusetts Avenue, Kalorama albergava
alguns dos mais poderosos e influentes habitantes da cidade.
Por norma, Mitchell Elliott detestava as cidades da Costa Leste. Passava a
maior parte do tempo em Colorado Springs, ou na sua casa na encosta, em Los
Angeles, perto da sede da Alatron Defense Systems. No entanto, a mansão de três
milhões de dólares em Kalorama ajudava-o a tolerar as viagens frequentes a
Washington. Chegara a pensar em adquirir uma propriedade na terra dos cavalos,
no estado de Virgínia, mas o percurso até a cidade através da Interstate 66 era um
pesadelo, e Mitchell Elliott não tinha tempo a perder. Kalorama ficava a dez
minutos do National Airport e de Capitol Hill, e a cinco minutos da Casa Branca.
Faltavam cinco minutos para as sete. Elliott descontraía-se na biblioteca do
primeiro andar, sobranceira ao jardim. O vento lançava a chuva contra o vidro.

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