CASA BRANCA
Anne Beckwith tinha uma regra ao jantar: Falar sobre política era
estritamente proibido. A política dominara as suas vidas nos vinte e cinco anos
desde que o marido fora sugado para a máquina do Partido Republicano na
Califórnia, e Anne estava determinada a ter uma hora por dia em que a política não
se intrometesse. Jantaram nos aposentos da família na mansão oficial: o
Presidente, a Primeira-Dama e Mitchell Elliott. Anne adorava a cozinha italiana e
acreditava em segredo que o país seria melhor se "fôssemos um pouco mais como
os Italianos e menos como os Americanos". A bem da sua carreira política,
Beckwith pedira a Anne que guardasse esse tipo de opinião para si. Todos os verões
resistia ao desejo de Anne de passar férias na Europa, escolhendo locais "mais
americanos". No último Verão tinham ficado em Jackson Hole, ao qual Anne, no
quarto dia, apelidara de "Fossa".
Fazia-lhe a vontade no que dizia respeito à comida. Nessa noite, à luz suave
das velas, ela escolhera fettuccini com pesto, natas e ervilhas, seguido de
medalhões de vitela, uma salada e queijo, tudo regado por uma dispendiosa
garrafa de quinze anos de vinho tinto toscano.
Ao longo da refeição, à medida que os funcionários da Casa Branca iam
entrando e saindo em silêncio com cada prato, Anne Beckwith orientou com
cuidado a conversa, de um tópico seguro para o seguinte: filmes novos que ela
queria ver, livros novos que lera, velhos amigos, os filhos, a pequena vivenda na
zona do Norte de Itália de Piedmont, onde tencionava passar o primeiro Verão
"depois de termos cumprido as nossas penas e de termos voltado a ser livres".
O Presidente tinha um ar exausto. Os olhos, normalmente de um azul-
pálido, estavam vermelhos e cansados. O dia fora extenuante, passara a manhã com
os diretores das agências que investigavam o atentado ao avião: o FBI e a National
Transportation Safety Board. À tarde viajara até Nova York, para se encontrar com
os familiares das vítimas. Percorreu a zona da queda ao largo de Fire Island a bordo
de um escaler da guarda-costeira e seguiu de helicóptero até a vila de Bay Shore,
onde assistira a um serviço religioso em honra de um grupo de estudantes do liceu
local que morrera na tragédia. Teve um encontro comovente com John North, um
professor de química cuja esposa Mary acompanhava os jovens na viagem a
Londres.
Vandenberg encenara os acontecimentos na perfeição. Na telada televisão,
o Presidente deixara transparecer uma expressão de liderança, calmamente em
pleno domínio da situação. Regressou a Washington e reuniu-se com o gabinete de