A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

a lado, subindo a leve inclinação de Califórnia Street, ao longo das grandiosas
mansões iluminadas de Kalorama. Um vento úmido percorria as árvores. Folhas de
tons vermelho e dourado agitavam-se suavemente à pálida luz amarelada dos
postes. Era uma noite calma, salvo pelo vento e pelo murmúrio do trânsito na
Massachusetts Avenue. O carro avançou e estacionou à frente da casa de Elliott,
onde o motor foi desligado e os faróis apagados. O guarda-costas de Elliott seguia
alguns passos atrás deles, onde não podia ouvi-los.
─ Nunca o tinha visto de tão mau humor ─ comentou Elliott.
─ Está cansado.
─ Mesmo que decida avançar, espero que tenha energia e paixão para
apresentar o caso aos eleitores e ao Congresso.
─ É o melhor ator que já ocupou aquele cargo desde Ronald Reagan. Se lhe
dermos um bom guia, ele vai descontar as falas e acertar nas deixas todas.
─ Então veja se o guia que seja mesmo bom.
─ Já encomendei o discurso.
─ Santo Cristo! Se é assim, com certeza que amanhã vou ler sobre o assunto
no Post.
─ Tenho minha melhor redatora de discursos trabalhando na primeira
versão. Está trabalhando em casa. Não há nada no sistema de informática da Casa
Branca, onde poderia cair nas mãos de alguém.
─ Muito bem, Paul. Fico aliviado por saber que continua astuto como
sempre.
Vandenberg não respondeu. Um carro passou por eles, um pequeno Toyota
que virou à esquerda na 23rd Street. As luzes traseiras desapareceram na
escuridão. Fez-se sentir uma rajada de vento. Vandenberg ergueu o colarinho da
gabardina. ─ Foi uma bela apresentação, Mitchell. O Presidente estava visivelmente
sentido. De certeza que de manhã vai acordar e perceber a sabedoria contida na sua
abordagem. Vou entrar em contato com as estações de televisão para que façam a
transmissão em direto de um comunicado presidencial a partir da Sala Oval.
─ Será que as estações vão na conversa?
É claro. Já reclamaram no passado, quando julgam que utilizamos o
privilégio de um discurso na Sala Oval por motivos claramente políticos, mas neste
momento ninguém pode apresentar um argumento desses. Além disso, a sua
própria iniciativa vai ser o segundo assunto da ordem de trabalhos. O primeiro é a
declaração de que as forças armadas americanas levaram a cabo um ataque
devastador contra a Espada de Gaza e os seus financiadores. Duvido que até
mesmo os presidentes das estações tenham a arrogância de negar ao Beckwith uma
cobertura ao vivo num momento destes.

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