A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

conhecia limites. Mas agora esse ódio virara-se contra os israelenses que desejavam
criar um acordo de paz com assassinos como Arafat e Assad.
Passara a vida a defender Israel. Sonhava com um Israel grandioso, que se
estendesse do Sinai à Cisjordânia. Agora os pacifistas queriam abdicar de tudo.
O primeiro-ministro falava da possibilidade de entregar o Golan, para atrair
Assad para a mesa de negociações. Shamron recordava-se dos dias negros antes de
1967, quando granadas sírias caíam sobre o Norte da Galileia. Arafat dirigia Gaza e
a Cisjordânia. Queria um estado palestino independente, com Jerusalém como
capital. Jerusalém! Shamron nunca o permitiria.
Jurara utilizar todos os meios ao seu alcance para deter o suposto processo
de paz. Se tudo continuasse de acordo com o planeado, talvez visse esse desejo
concretizado. Agora Assad nunca se sentaria à mesa das negociações. Os árabes de
Gaza e da Cisjordânia ferveriam de raiva quando acordassem e tivessem
conhecimento dos ataques americanos. O exército teria de intervir. Haveria mais
uma jornada de terror e de vingança. O processo de paz seria interrompido.
Ari Shamron terminou o chá e apagou o cigarro. Fora o melhor milhão de
dólares que já gastara.
Cinco mil quilômetros a norte, em Moscou, decorria uma vigília semelhante
na sede do Serviço de Espionagem Exterior, o sucessor do KGB. O homem à janela
era o general Constantin Kalnikov. Amanhecera e o dia estava desagradável para
Outubro, mesmo segundo os padrões de Moscou. A neve, soprada por ventos
siberianos, rodopiava na praça lá em baixo. Dali a poucas semanas iria em trabalho
para a ilha das Caraíbas de St. Marteen. Uma pausa do frio interminável seria bem-
vinda.
Kalnikov arrepiou-se e fechou os cortinados pesados. Sentou-se à secretária
e começou a tratar de uma pilha de papéis. Constantin Kalnikov, um comunista
empenhado, fora recrutado pelo KGB em 8. Chegou à liderança do Segundo
Diretorado Principal, a seção do KGB responsável pela contraespionagem e por
eliminar a subversão interna. Quando a União Soviética ruiu, e com ela o KGB,
Kalnikov manteve um cargo elevado no novo serviço, o SVR. Kalnikov dirigia agora
as operações de espionagem russas na América Latina e nas Caraíbas. O trabalho
era uma anedota. Tinha um orçamento tão pequeno que não dispunha de dinheiro
para pagar a agentes, ou a informantes. Era impotente, tal como o resto da Rússia.
Kalnikov observara Boris Yeltsin e o seu sucessor a arrasarem a economia
russa.
Vira o antigamente orgulhoso Exército Vermelho ser humilhado na
Chechênia, os tanques enferrujando por falta de peças sobressalentes e
combustível, as tropas passando fome. Assistira ao vaidoso KGB a transformar-se

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