NOVEMBRO
SHELTER ISLAND, NOVA YORK
Foi The New Yorker quem primeiro batizou o Senador Douglas Cannon de
“Péricles da atualidade" e, ao longo dos anos, Cannon não fez nada para
desencorajar a comparação. Cannon era um estudioso e um historiador, um liberal
impassível e um reformista democrata. Utilizava os milhões da sua fortuna
herdada para promover as artes. O espaçoso apartamento da Quinta Avenida servia
de local de encontro dos mais famosos escritores, artistas e músicos de Nova York.
Esforçava-se por preservar a herança arquitetônica da cidade. Ao contrário de
Péricles, Douglas Cannon nunca comandara homens em combate. Com efeito,
detestava armas e armamento por princípio, exceto arco e flecha. Em jovem fora
um dos melhores arqueiros do mundo, uma destreza que passara à sua filha única,
Elizabeth. Apesar da desconfiança inata pelas armas e pelos generais, Cannon
considerava-se apto a gerir a política militar e externa da nação. Já esquecera mais
história do que a maior parte dos homens de Washington alguma vez viria a saber.
Ao longo dos seus quatro mandatos no Senado, Cannon servira como presidente
do Armed Services Committee, do Foreign Relations Committee, e do Selet
Committee on Intelligence.
Quando a esposa Eileen ainda estava viva, passavam os dias da semana em
Manhattan e os fins-de-semana em Shelter Island, na luxuriante mansão da família,
com vista para Dering Harbor. Depois da morte dela, a cidade passou a ter cada vez
menos significado, por isso foi alongando as permanências na ilha, sozinho com o
barco à vela e com os retrievers, e com Charlie, o caseiro.
Pensar no pai sozinho naquela enorme casa perturbava Elizabeth. Sempre
que possível, ia com Michael passar alguns dias à ilha. Elizabeth pouco vira o pai
durante a infância, pois ele morava em Washington, e Elizabeth e a mãe em
Manhattan. Ia a casa na maior parte dos fins-de-semana, mas o tempo que
passavam juntos era breve e faltava-lhe espontaneidade. Além disso, tinha de se
encontrar com eleitores e participar em ações de angariação de fundos, e havia
sempre pessoal de olhos exaustos a disputarem a sua atenção. Agora os papéis
invertiam-se. Elizabeth queria compensar o tempo perdido. A mãe morrera e, pela
primeira vez na vida, o pai precisava mesmo dela. Seria fácil assumir uma posição
amarga, mas ele era um homem notável, que tivera uma vida notável, e Elizabeth
não queria que os últimos anos fossem desperdiçados. A reunião de Michael com