está bem mal.
— Mais um dia, mais um ataque.
— Ainda tem mais, infelizmente. Um passante pulou no árabe para tentar desarmá-
lo. Quando a polícia chegou, viu dois homens brigando por uma faca e atirou nos dois.
— Estão muito mal?
—O herói está pior. Ele está entrando no centro de trauma.
— E o terrorista?
— Uma bala, entrou e saiu. Ele é todo seu.
Natalie correu para o corredor a tempo de ver o primeiro paciente sendo levado para
o centro de trauma. Ele estava vestindo capote preto, meias até o joelho e camisa branca
de um judeu ultraortodoxo. O capote estava rasgado e a camisa branca, ensopada de
sangue. Seus cachos de cabelo laterais, peiot loiro-arruivados, balançavam com o
movimento da maca; seu rosto estava pálido. Natalie o vislumbrou apenas brevemente,
um ou dois segundos, mas seus instintos disseram que o homem não viveria por muito
tempo.
O próximo a chegar foi um homem israelense secular; mais ou menos 35 anos, uma
máscara de oxigênio no rosto, uma bala no peito, consciente, respirando, mas com muita
dificuldade. Foi seguido um momento depois pela segunda vítima do esfaqueamento, um
garoto ortodoxo de 14 ou 15 anos, com sangue jorrando de múltiplas feridas. Depois,
finalmente, veio a causa de todo o caos e derramamento de sangue: o palestino de
Jerusalém Oriental que acordara naquela manhã e decidira matar duas pessoas por serem
israelenses e judias. Ele tinha 20 e poucos anos, considerou Natalie, não mais que 25.
Tinha uma única ferida de bala no lado esquerdo do peito, entre a base do pescoço e o
ombro, e vários cortes e lesões no rosto. Talvez o herói tenha conseguido dar um ou
dois golpes enquanto tentava desarmá-lo. Ou, talvez, pensou Natalie, a polícia tenha
dado uma sova nele enquanto o prendia. Quatro policiais israelenses, com os rádios
crepitando, rondavam a maca à qual o palestino estava algemado e amarrado. Havia
também vários homens em roupas normais. Natalie suspeitava que fossem do Shabak,
serviço de segurança interna de Israel.
Um dos oficiais do Shabak se aproximou de Natalie e se apresentou como Yoav. O
cabelo dele era raspado bem rente à cabeça; óculos escuros escondiam seus olhos.
Parecia decepcionado que o paciente ainda estivesse entre os vivos.
— Precisamos ficar enquanto você o atende. Ele é perigoso.
— Eu consigo dar conta.
— Não dele. Ele quer morrer.
Os atendentes da ambulância empurraram o jovem palestino pelo corredor do
pronto-socorro e, com a ajuda dos policiais, passaram-no da maca ensopada de sangue
para uma maca de tratamento limpa. O homem ferido se debateu brevemente enquanto
os policiais prendiam suas mãos e seus pés nos gradis de alumínio com algemas flexíveis
de plástico. A pedido de Natalie, os policiais se afastaram da sala. O homem do Shabak
insistiu em permanecer.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1