— Você está deixando ele nervoso — reclamou Natalie. — Preciso que ele esteja
calmo para eu poder limpar direito a ferida.
— Por que ele deveria ficar calmo enquanto os outros três lutam para sobreviver?
— Nada disso importa aqui; não agora. Eu chamo se precisar de você.
O homem do Shabak sentou-se do lado de fora. Natalie fechou a cortina e, sozinha
com o terrorista, examinou a ferida.
— Qual é seu nome? — perguntou a ele em hebraico, idioma que a maioria dos
moradores árabes de Jerusalém Oriental falava bem, especialmente quando tinham
empregos no lado ocidental. O palestino ferido hesitou, depois disse que se chamava
Hamid.
— Bom, Hamid, é seu dia de sorte. Um centímetro ou dois para baixo e você
provavelmente estaria morto.
— Eu quero estar morto. Quero ser um shahid.
— Infelizmente, veio ao lugar errado para isso.
Natalie pegou da bandeja de instrumentos um par de tesouras anguladas de
bandagem. O palestino se debateu de medo.
— O que foi? — perguntou Natalie. — Não gosta de objetos cortantes?
O palestino recuou, mas não disse nada.
Mudando para o árabe, Natalie o reconfortou:
— Não se preocupe, Hamid, não vou machucá-lo.
Ele pareceu surpreso.
— Você fala árabe muito bem.
— Por que eu não falaria?
— É uma de nós?
Natalie sorriu e cortou cuidadosamente a camisa sangrenta do corpo dele.
O relatório inicial sobre a condição do paciente acabou sendo incorreto. A bala de 9 mm
não tinha entrado e saído; ainda estava alojada perto da clavícula, fraturada a cerca de oito
centímetros do esterno. Natalie deu anestesia local e, quando a droga fez efeito, começou
a trabalhar rapidamente. Lavou a ferida com antibiótico e, usando um par de tesouras
esterilizadas, removeu os fragmentos de osso e vários pedaços de tecido incrustados.
Depois, removeu o projétil de 9 mm, deformado com o impacto na clavícula, mas ainda
inteiro. Hamid pediu que ficasse com ele, como lembrança do ataque. Franzindo as
sobrancelhas, Natalie jogou a bala em um saco de lixo médico, fechou a ferida com
quatro suturas e a cobriu com ataduras para proteger. O braço esquerdo tinha de ser
imobilizado para que a clavícula cicatrizasse, o que exigiria remover a algema flexível de
plástico. Natalie decidiu que isso podia esperar. Se as algemas fossem removidas,