A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

M


NAHALAL, ISRAEL

as primeiro, antes de ir além, Gabriel deu a Natalie outra chance de ir embora. Ela
podia voltar a Jerusalém, voltar a seu trabalho no Hadassah, voltar ao mundo normal. O
arquivo dela — sim, admitiu Gabriel, ela já tinha um arquivo — seria picotado e
queimado. Eles não a culpariam por dar as costas; culpariam apenas a si mesmos por
terem falhado em fechar negócio. Falariam bem dela, se falassem. Sempre pensariam nela
como aquela que perderam.
Ele disse tudo isso não em hebraico, mas em francês. E quando ela deu a resposta,
depois de apenas um minuto de consideração, foi na mesma língua, a língua de seus
sonhos. Ela ficaria, disse, mas só se ele contasse por que ela estava sendo convidada a
entrar naquele clube exclusivo.
“Shwaya, shwaya”, respondeu Gabriel. Era uma expressão árabe que, nesse contexto,
queria dizer “pouco a pouco”. Então, sem dar chance para Natalie se opor, ele contou a
ela sobre o homem chamado Saladin — não o filho de um mercenário curdo que uniu o
mundo árabe e retomou Jerusalém dos cruzados, mas o Saladin que, no período de
alguns dias, derramara sangue de infiéis e apóstatas em Paris e Amsterdã. Eles não
sabiam seu nome verdadeiro nem sua nacionalidade, embora o nom de guerre certamente
não fosse coincidência. Sugeria que era um homem ambicioso, um homem que queria
fazer história com pretensões de usar o assassinato em massa como meio de unificar o
mundo árabe e islâmico sob a bandeira negra do ISIS e do califado. Não obstante esse
objetivo, ele era claramente um mestre do terrorismo, com habilidades consideráveis.
Debaixo do nariz da inteligência ocidental, construíra uma rede capaz de levar poderosos
explosivos contidos em veículos até alvos cuidadosamente selecionados. Talvez as táticas
dele continuassem as mesmas ou talvez ele tivesse planos maiores. De qualquer forma,
tinham de destruir a rede.
— E nada destrói uma rede mais rápido — explicou Gabriel — do que tirar o líder
de cena.
— Tirar de cena? — perguntou Natalie.
Gabriel ficou em silêncio.
— Matá-lo, é isso que você quer dizer?
— Matar, eliminar, assassinar, liquidar... Pode escolher a palavra. Elas nunca
significaram muita coisa para mim. Meu negócio é salvar vidas inocentes.
— Eu não poderia de jeito nenhum...
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