A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

E


SERAINCOURT, FRANÇA

, assim, começou a grande espera — como a chamavam todos aqueles que suportaram
o período terrível, cerca de quarenta e duas horas, durante o qual a mensagem
criptografada ficou intocada em seu pequeno sarcófago de alumínio, na base de um poste
de eletricidade em Kerselaarstraat, no subúrbio de Dilbeek, em Bruxelas. Os atores desse
lento drama eram vários. Estavam dispersos de Bethnal Green, no leste de Londres, a
uma banlieue de imigrantes ao norte de Paris, a um cômodo no coração de um prédio em
Amã conhecido como Fábrica de Unhas, onde um jihadista estava sendo mantido vivo
ciberneticamente por aparelhos. Havia precedente para o que estavam fazendo; durante a
Segunda Guerra Mundial, a inteligência francesa manteve toda uma rede de espiões
alemães capturados vivos e operacionais na cabeça de seus controladores do Abwehr, o
serviço secreto da Alemanha, enviando a eles informações falsas e fraudulentas. Os
israelenses e jordanianos se viam como mantenedores de uma chama sagrada.
O único lugar onde não havia membros da equipe era Dilbeek. Ainda que não
estivesse nem a dois quilômetros do centro de Bruxelas, aquele era um subúrbio
claramente rural rodeado de pequenas fazendas.
— Em outras palavras — declarou Eli Lavon, que patrulhara o local de entrega na
manhã seguinte ao interrogatório de Nabil Awad —, é o pesadelo de um espião.
Um posto de observação fixo estava fora de questão. Também não era possível vigiar
o alvo de um carro estacionado ou de um café. Era proibido estacionar naquele trecho da
Kerselaastraat, e os únicos cafés ficavam no centro da vila.
A solução foi esconder uma câmera em miniatura no tufo de ervas do lado oposto da
rua. Mordecai monitorava sua transmissão altamente criptografada de um quarto de hotel
no centro de Bruxelas, e roteava o sinal para uma rede segura, permitindo que outros
membros da equipe também assistissem. Logo virou um compromisso, um sucesso de
audiência. Em Londres, Tel Aviv, Amã, Paris, oficiais de inteligência profissionais
altamente treinados e motivados ficavam imóveis diante de telas de computadores,
olhando para um emaranhado de tojo na base de um poste elétrico de concreto.
Ocasionalmente, passava por ali um veículo, um ciclista ou um aposentado da vila em
uma caminhada matinal; mas durante a maior parte do tempo a imagem parecia uma
fotografia, e não uma transmissão ao vivo. Gabriel a monitorava de um centro
operacional improvisado no Château Treville, e achava que era a coisa mais feia que já
tinha produzido. Chamava aquilo de Lata ao lado de poste e se xingava internamente por
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