local de entrega. O humor de Gabriel piorava a cada hora. Ele perambulou por cada
cômodo do Château Treville, caminhou pelos passeios do jardim, examinou os
relatórios de observação. Principalmente, olhou para a tela do computador, para a
imagem de um poste de concreto se erguendo de um emaranhado de arbusto de tojo,
possivelmente a imagem mais horrenda da história de um serviço respeitável.
No fim da tarde do terceiro dia, o dilúvio que inundara Dilbeek assolou as banlieues
ao norte de Paris. Eli Lavon ficou preso nas ruas de Aubervilliers e, quando voltou ao
Château Treville, podia ser confundido com um lunático que decidira nadar totalmente
vestido. Gabriel estava de pé diante de um computador, como se paralisado. Seus olhos
verdes, porém, brilhavam incandescentes.
— E então? — perguntou Lavon.
Gabriel esticou a mão, apertou algumas teclas no teclado e clicou no ícone play na
tela. Alguns segundos depois, um motociclista apareceu da direita para a esquerda, em
um borrão preto.
— Você sabe quantos motociclistas passaram por esse ponto hoje? — perguntou
Lavon.
— Trinta e oito — respondeu Gabriel. — Mas só um fez isto.
Ele repassou o vídeo em câmera lenta e clicou no ícone de pausa. No instante em que
a imagem congelou, o visor do capacete do motociclista estava apontado diretamente
para a base do poste de eletricidade.
— Talvez algo o tenha distraído — disse Lavon.
— Tipo o quê?
— Uma lata de cerveja com um pen drive dentro.
Gabriel sorriu pela primeira vez em três dias. Batucou algumas teclas do computador
e a imagem ao vivo reapareceu na tela. Lata ao lado de poste, pensou. De repente, era a
coisa mais linda que ele já tinha visto.
Eles o viram pela segunda vez às sete da noite e de novo às oito e meia, com o pôr do
sol escurecendo a imagem como uma pintura sendo lentamente devorada pelas gorduras
da tela e pelo verniz amarelado. Nas duas ocasiões, ele passou pela tela da esquerda para
a direita. E em ambas, quando examinadas em câmera lenta, a cabeça dele virou quase
imperceptivelmente na direção do arbusto de tojo na base do poste de eletricidade de
concreto. Quando ele voltou pela terceira vez, já estava escuro há muito tempo e a
imagem estava completamente preta. Desta vez, parou e desligou as luzes da moto.
Mordecai passou a câmera para o modo infravermelho, e um segundo depois Gabriel e
Eli Lavon assistiram a uma mancha amarela e vermelha em formato de homem entrar e
sair rapidamente do arbusto na beira da Kerselaarstraat.