— Eles não gostaram do quarto — explicou a recepcionista.
— Consegui entender essa parte.
— Mas o seu é ótimo, garanto.
Natalie aceitou a chave e, depois de recusar uma oferta de ajuda com a mala, foi
sozinha até o quarto. Havia duas camas de solteiro e uma pequena varanda com vista
para a borda da caldeira; nela, um par de brilhantes navios de cruzeiro brancos flutuava
como se fossem de brinquedo em um mar perfeitamente liso. Uma última diversão,
pensou ela, cortesia da organização terrorista mais rica da história.
Abriu a mala e tirou seus pertences como se estivesse se acomodando para uma
estada longa. Quando terminou, o sol estava alguns graus acima do horizonte e
inundava o quarto com sua ardente luz laranja. Depois de trancar seu passaporte no
cofre do quarto, desceu até o bar do terraço, que estava lotado de outros hóspedes,
vindos principalmente das Ilhas Britânicas. Entre eles, claramente de humor melhor,
estavam Yossi e Rimona.
Natalie conseguiu uma mesa vazia e pediu para uma garçonete apressada uma taça de
vinho branco. Pouco a pouco, o bar se encheu de outros hóspedes, incluindo o homem
magrelo com pele pálida e olhos cor de gelo glacial. Tinha esperança de que ele se
juntasse a ela, mas, em vez disso, ele se sentou no bar, onde conseguia observar o
terraço e fingia flertar com uma garota bonita de Bristol. Natalie conseguiu ouvir a voz
dele pela primeira vez e se surpreendeu com o distinto sotaque russo. Dada a população
do Israel moderno, ela suspeitava que o sotaque fosse autêntico.
Logo em seguida, o sol caiu atrás dos picos de Therasia. O céu se escureceu, o mar
ficou negro. Natalie olhou de relance para o homem que falava com sotaque russo, mas,
no momento, ele estava ocupado; então, ela desviou os olhos e fixou-os no vazio.
Alguém vai vir, eles tinham dito. Mas, naquele instante, naquele lugar, a única pessoa
que Natalie queria era o homem no bar.
Pelos três dias seguintes, dra. Leila Hadawi se comportou como uma turista comum,
ainda que solitária. Tomou café da manhã sozinha na sala de refeições do Panorama,
torrou a pele na praia de pedregulhos negros de Perissa, escalou a borda da caldeira,
passeou pelos sítios arqueológicos e geológicos da ilha, bebeu vinho ao pôr do sol no
terraço. Era uma ilha pequena, então era compreensível que ela encontrasse outros
hóspedes do hotel longe do edifício. Passou uma manhã desagradável na praia perto do
careca inglês e de sua esposa curvilínea e, enquanto visitava a cidade soterrada de
Akrotiri, encontrou o russo pálido, que fez questão de ignorá-la. No dia seguinte, seu
quarto dia na ilha, ela viu a garota bonita de Bristol enquanto fazia compras em Thera.