— Ela — esclareceu Gabriel. — E é uma das nossas.
Carter xingou baixo.
— Talvez você realmente tenha enlouquecido.
Apertando a tampa de uma garrafa térmica, ele se serviu um copo de café. Estavam na
sala de estar de uma casa de propriedade federal de tijolos vermelhos na N Street em
Georgetown, a joia da coroa da vasta rede de casas seguras da CIA na região
metropolitana de Washington. Gabriel tinha sido convidado frequente da casa durante
os dias de insegurança da relação pós-11 de Setembro do Escritório com Langley.
Planejara operações ali, recrutara agentes ali e, uma vez, no início do primeiro mandato
do presidente americano, concordara em caçar e matar um terrorista que por acaso
levava um passaporte americano no bolso. Essa tinha sido a natureza da relação. Gabriel
servira de boa vontade como filial secreta da CIA, executando operações que, por
motivos políticos, o próprio Carter não podia empreender. Mas logo Gabriel seria o
chefe de seu serviço, o que significava que, no que dizia respeito a protocolo, ele estaria
acima de Carter. Secretamente, Gabriel suspeitava que o que Carter mais queria era ser
ele mesmo chefe. Seu passado, porém, não o permitiria. Nos meses depois do 11 de
Setembro, ele prendera terroristas em prisões secretas, os enviara a países que
torturavam e os sujeitavam a métodos interrogatórios do tipo que Gabriel permitira em
uma fazenda no norte da França. Em resumo, Carter fizera o trabalho sujo necessário
para prevenir outro espetáculo da al-Qaeda em solo americano. E, como punição, seria
eternamente forçado a bater de modo educado à porta de homens inferiores.
— Eu não sabia que o Escritório tinha algum interesse em ir atrás do ISIS — ele
estava dizendo.
— Alguém tem de fazer isso, Adrian. Que seja a gente.
Por cima do ombro, Carter olhou para Gabriel e franziu o cenho. Explicitamente,
deixou de oferecer café a Gabriel.
— Da última vez que falei com o Uzi sobre a Síria, ele estava mais que satisfeito em
deixar os malucos se matando. “O inimigo do meu inimigo é meu amigo”, não é a regra
de ouro na sua charmosa vizinhança? Enquanto o regime, os iranianos, o Hezbollah e os
jihadistas sunitas estavam se matando, o Escritório estava satisfeito em sentar na seção da
orquestra e admirar o show. Então, não me dê um sermão sobre ficar sentado sem fazer
nada sobre o ISIS.
— Uzi não vai ser chefe durante muito tempo.
— É o que dizem — concordou Carter. — Na verdade, estávamos esperando que a
transição acontecesse há vários meses e ficamos bastante surpresos quando Uzi nos
contou que ia ficar por um período de tempo indefinido. Chegamos a imaginar que os
relatos sobre a triste morte do sucessor escolhido eram verdade. Agora, sabemos o
motivo verdadeiro por que ele ainda é chefe. O sucessor dele decidiu tentar penetrar a
rede global de terror do ISIS com uma agente viva. Um objetivo nobre, mas
incrivelmente perigoso.
Gabriel não respondeu.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1