O
PALMIRA, SÍRIA
diretor do campo era um iraquiano chamado Massoud, da província de Anbar. Ele
perdera o olho esquerdo lutando contra os americanos durante a revolta das tropas de
- O direito ele fixou, desconfiado, em Natalie quando, depois de um jantar nada
apetitoso no refeitório, ela pediu permissão para caminhar sozinha do lado de fora do
campo.
— Não é preciso nos enganar — disse, enfim. — Se deseja ir embora do campo,
dra. Hadawi, está livre para isso.
— Não desejo ir embora.
— Não está feliz aqui? Não a tratamos bem?
— Muito bem.
Massoud, o caolho, fez uma cena para fingir que estava ponderando.
— Não há serviço de telefone na cidade, se é nisso que está pensando.
— Não é.
— E também não tem serviço de celular nem internet.
Houve um silêncio curto.
— Vou mandar um dos combatentes, um dos mujahidin, com você — disse
Massoud.
— Não é necessário.
— É, sim. Você é valiosa demais para ficar andando sozinha.
O mujahid selecionado por Massoud para acompanhar Natalie era um nativo do
Cairo bonito e com diploma universitário chamado Ismail, que se juntara ao ISIS por
frustração, pouco depois do golpe que tirou a Irmandade Muçulmana do poder no
Egito. Eles saíram do campo alguns minutos após as nove da noite. A lua estava baixa
sobre o cinturão de montanhas ao norte de Palmira, um sol branco em um céu negro, e
brilhava como um holofote nas montanhas ao sul. Natalie perseguiu sua própria sombra
por um caminho poeirento, Ismail seguindo alguns passos atrás, com sua roupa preta
luminosa ao luar, uma arma atravessada no peito. Dos dois lados do caminho,
plantações bem-cuidadas de tamareiras se perdiam na noite resplandecente. As tamareiras
cresciam bem no solo rico ao lado do Wadi al-Qubur, que recebia as águas da fonte de
Efqa. Os humanos tinham sido atraídos para esse lugar pela primeira vez por causa da
fonte e do oásis ao redor, talvez no século VII a.C. Ali, cresceu uma cidade murada de
duzentos mil habitantes, que falavam o dialeto de Palmira do aramaico e ficaram ricos