A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

estetoscópio era praticamente uma peça de museu, mas funcionava bem. O pulmão
esquerdo soava normal, mas no direito só havia silêncio.
— Ele tem um hemopneumotórax.
— O que isso quer dizer?
— O pulmão direito parou de funcionar porque está cheio de ar e sangue. Preciso
mudá-lo de posição.
O iraquiano fez um gesto em direção a um dos soldados, que ajudou Natalie a
colocar Saladin apoiado do lado esquerdo. Depois, ela fez uma pequena incisão entre a
nona e a décima costela, inseriu uma pinça de hemostasia e colocou um dreno no tecido
do pulmão direito de Saladin. Houve um ruído audível de ar escapando. Então, o
sangue de Saladin fluiu pelo tubo para o chão vazio.
— Ele vai morrer de tanto sangrar! — gritou o iraquiano.
— Fique quieto — reagiu Natalie — ou vou ter que pedir que você saia.
Meio litro de sangue ou mais se derramou antes de o fluxo virar um fio. Natalie
colocou uma pinça no tubo para evitar a entrada de ar externo no pulmão. Então,
cuidadosamente colocou Saladin deitado de costas e começou a trabalhar na ferida do
peito.
O estilhaço de bomba tinha quebrado duas costelas e causado danos significativos ao
músculo peitoral maior. Natalie lavou a ferida com álcool; depois, usando um par de
tesouras cirúrgicas anguladas, removeu o estilhaço. Havia mais sangramento, mas nada
relevante. Ela removeu vários fragmentos de osso e fios da veste negra de Saladin.
Depois disso, não havia mais o que pudesse ser feito. As costelas, se ele sobrevivesse,
cicatrizariam, mas o músculo peitoral provavelmente nunca mais recuperaria a forma ou
a força original. Natalie fechou o tecido profundo com suturas, mas deixou a pele aberta.
Doze horas tinham se passado desde a ferida original. Se ela fechasse a pele agora, estaria
prendendo agentes infecciosos dentro do corpo, garantindo um caso de sepse e uma
morte lenta e agonizante. Era tentador, pensou, mas imprudente do ponto de vista
médico. Ela cobriu a ferida com uma gaze e voltou sua atenção à perna.
Também ali Saladin tivera sorte. O estilhaço tinha sido cuidadoso no caos que
causara, danificando ossos e tecidos, mas poupando os principais vasos sanguíneos. O
procedimento de Natalie foi idêntico ao da primeira ferida: irrigação com álcool, retirada
de fragmentos de ossos e fibras de tecido, sutura do tecido profundo, uma gaze sobre a
pele aberta. No total, a cirurgia improvisada levou menos de uma hora. Ela adicionou
uma dose pesada de antibióticos à bolsa intravenosa e cobriu o paciente com um lençol
branco limpo. O dreno do tórax ela manteve no lugar.
— Parece uma mortalha — disse o iraquiano, sombrio.
— Ainda não — respondeu Natalie.
— E alguma coisa para a dor?
— Neste ponto — disse ela —, a dor é nossa aliada. Ela age como estímulo. Vai
ajudá-lo a recuperar a consciência.
— Vai funcionar?

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