O
AEROPORTO CHARLES DE GAULLE, PARIS
nome no papel retangular dizia MORESBY. O próprio Christian Bouchard o tinha
escolhido. Vinha de um livro que ele lera certa vez sobre americanos ricos e ingênuos
perambulando entre os árabes do Norte da África. A história terminava mal para os
americanos; alguns deles morriam. Bouchard não gostava do romance, mas era o
primeiro a admitir que ele mesmo não era lá um grande intelectual. Essa falta fez com
que Paul Rousseau, famoso por ler até enquanto escovava os dentes, não gostasse dele
inicialmente. Rousseau estava sempre empurrando densos volumes de prosa e poesia
para seu vice. Bouchard exibia os livros na mesa de centro de seu apartamento para
impressionar os amigos da esposa.
Ele segurava o aviso de papel com a mão direita úmida. Com a esquerda, segurava
um telefone celular, que há várias horas apitava com um fluxo contínuo de mensagens
relacionadas a certa dra. Leila Hadawi, cidadã francesa de raiz árabe-palestina. A dra.
Hadawi embarcara no voo 1533 da Air France em Atenas no começo daquela tarde,
depois de um mês de férias na Grécia. Ela recebera autorização para entrar na França sem
questionamentos sobre seu itinerário de viagem e agora estava chegando ao salão de
desembarque do Terminal 2F, ou, pelo menos, era o que dizia a mensagem recebida por
Bouchard. Ele só acreditaria quando visse com seus próprios olhos. O israelense parado
ao seu lado parecia se sentir da mesma forma. Era aquele magricela com olhos cinza que
os membros franceses da equipe conheciam como Michel. Algo nele inquietava
Bouchard. Não era difícil imaginá-lo com uma arma na mão, apontada para um homem
prestes a morrer.
— Lá está ela — murmurou o israelense, como se falasse com seus sapatos, mas
Bouchard não a viu. Um voo do Cairo chegara ao mesmo tempo em que o voo de
Atenas; havia um mar de hijabs.
— De que cor? — perguntou Bouchard.
— Vinho — respondeu o israelense. Era uma das poucas palavras que ele conhecia
em francês.
O olhar de Bouchard varreu o desaguadouro de seres humanos, e então a viu de
repente, uma folha à deriva em um riacho. Ela passou a alguns passos de onde eles
estavam, olhando direto para a frente, o queixo levemente para cima, arrastando sua
pequena mala de rodinhas. Então, deslizou pelas portas externas e sumiu de novo.
Bouchard olhou para o israelense, que surpreendentemente estava sorrindo. Seu