A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

algo apropriado para um jantar de negócios — uma saia e uma jaqueta, mas a jaqueta
não podia ser muito justa. Safia experimentou várias das sugestões da vendedora, mas
rejeitou todas.
— Justa demais — disse em um inglês cheio de sotaque, passando a mão por seus
quadris atraentes e sua cintura magra. — Mais solta.
— Se eu tivesse um corpo assim — disse a vendedora —, ia querer que fosse o mais
justo possível.
— Ela quer dar uma boa primeira impressão — explicou Natalie.
— Diz pra ela tentar na Macy’s. Talvez lá ela encontre.
Foi o que ela fez. Em alguns minutos, encontrou uma jaqueta comprida com cinco
botões, da marca Tahari, que declarou ser adequada. Escolheu duas, uma vermelha e
outra cinza; ambas tamanho quarenta.
— São grandes demais para ela — disse a vendedora. — Ela é, no máximo, 38.
Natalie passou o cartão de crédito na máquina sem dizer nada e assinou o recibo. A
vendedora cobriu as duas jaquetas com um plástico branco com o logo da Macy’s e
entregou a elas. Natalie aceitou a sacola e seguiu Safia para fora da loja.
— Por que você comprou duas jaquetas?
— Uma é para você.
Natalie se sentiu enjoada de repente.
— Qual?
— A vermelha, claro.
— Nunca fiquei bem de vermelho.
— Não seja boba.
Do lado de fora do shopping, Safia checou seu telefone.
— Você precisa de alguma coisa? — perguntou ela.
— Tipo o quê?
— Maquiagem? Alguma joia?
— Me diga você.
— Que tal um café?
Natalie não estava com muita vontade de beber café, mas também não queria levar
mais uma bronca de Safia. Elas foram ao Starbucks ao lado, pediram dois lattes e se
sentaram a uma mesa do lado de fora do shopping. Várias muçulmanas, todas usando
véu, estavam conversando baixo em árabe, e muitas outras mulheres de hijab, algumas
de meia-idade, algumas bem jovens, passeavam pelas galerias. Natalie sentiu como se
estivesse de volta em sua banlieue. Ela olhou para Safia, que estava com o olhar vago no
horizonte e segurando seu celular com força. O café ficou na mesa, intocado.
— Preciso usar o banheiro — avisou Natalie.
— Não.
— Por que não?
— Não é permitido.
O celular de Safia vibrou. Ela leu a mensagem e se levantou abruptamente.

Free download pdf