A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

G


CENTRO NACIONAL DE CONTRATERRORISMO

abriel abriu um olho e depois, dolorosamente, o outro. Ele tinha estado inconsciente,
por quanto tempo, não sabia — alguns segundos, alguns minutos, uma hora ou mais.
Também não conseguia compreender a atitude de seu próprio corpo. Estava submerso
em um mar de escombros, isso ele sabia, mas não conseguia discernir se de barriga para
cima ou para baixo, em pé ou de ponta-cabeça. Não sentia pressão diferente na cabeça, o
que interpretou como um bom sinal, mas tinha medo de ter perdido a capacidade de
ouvir. O último som de que se lembrava era o rugir da detonação e o vush-tum do efeito
de vácuo. A onda de propulsão supersônica parecia ter remexido seus órgãos internos.
Ele sentia dor em tudo — no pulmão, no coração, no fígado, em tudo.
Empurrou com as mãos os escombros, que cederam. Através de uma nuvem de
poeira, ele enxergou o esqueleto de aço exposto do prédio e as artérias cortadas de cabos
de rede e fios elétricos. Choviam faíscas, como se de estalinhos, e por um rasgo no teto
ele conseguia ver a constelação de Ursa Maior. O frio gelado de novembro o fez tremer.
Um pássaro pousou perto dele, estudou-o desinteressado e voou de novo.
Gabriel afastou mais escombros e, com uma contorção de dor, se sentou. Uma das
mesas em formato de feijão tinha caído nas pernas dele. Deitada ao lado, imóvel, coberta
de poeira, havia uma mulher. Seu rosto estava sem dano algum, exceto por alguns
pequenos cortes de cacos de vidro. Os olhos estavam abertos e fixos com o olhar
longínquo da morte. Gabriel a reconheceu: era a analista que trabalhava em uma mesa
perto da dele. Seu nome era Jill — ou Jen? Seu emprego era varrer as listas de
passageiros que chegavam em busca de pessoas potencialmente perigosas. Era uma
jovem inteligente, recém-saída da faculdade, provavelmente de uma cidade tradicional em
um lugar como Iowa ou Utah. Tinha vindo a Washington para manter seu país seguro,
pensou Gabriel, e agora estava morta.
Ele colocou a mão de leve no rosto dela e fechou seus olhos. Então, empurrou a
mesa e se levantou, instável. Instantaneamente, o mundo devastado do andar de
Operações começou a girar. Gabriel apoiou a mão nos joelhos até o carrossel parar. O
lado direito da cabeça dele estava quente e úmido. Sangue caiu em seus olhos.
Ele enxugou o sangue com a mão e voltou à janela de onde tinha visto o caminhão se
aproximando. Não havia corpos, havia pouquíssimos escombros ao lado do prédio;
tudo tinha implodido. Também não havia janelas nem paredes externas. Toda a fachada
sul do Centro Nacional de Contraterrorismo tinha sido destruída. Gabriel se moveu
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