— Vi seus olhos se mexendo. Sei que você está acordada.
— O que você me deu?
— Propofol.
— Onde conseguiu?
— Sou enfermeira — a mulher desceu do carro e abriu a porta de Natalie. — Desça.
— Não consigo.
— Propofol é um anestésico de curta duração — palestrou a mulher, pedante. — Os
pacientes que o tomam geralmente conseguem caminhar sozinhos alguns minutos depois
de acordar.
Como Natalie não se mexeu, a mulher apontou a arma para a cabeça dela. Natalie
levantou a mão direita e colocou o dedão com leveza em cima do botão detonador.
— Você não tem coragem — disse a mulher, e então agarrou o pulso de Natalie e a
arrastou para fora do carro.
A porta do chalé estava a uma caminhada de talvez vinte metros, mas o peso do
chumbo do colete suicida e o efeito prolongado do propofol fizeram com que parecesse
mais de um quilômetro. O cômodo em que Natalie entrou era rústico e charmoso.
Consequentemente, seus ocupantes, todos homens, não poderiam parecer mais
deslocados. Quatro usavam uniformes militares pretos e estavam armados com fuzis de
assalto. O quinto usava um terno elegante e estava esquentando as mãos diante de um
fogão a lenha. Ele estava virado de costas para Natalie. Tinha bem mais de 1,80 metro, e
seus ombros eram largos. Ainda assim, parecia vagamente enfermo, como se estivesse se
recuperando de um ferimento recente.
Enfim, o homem de terno elegante se virou. Seu cabelo estava penteado e arrumado,
a barba, feita. Seus olhos castanho-escuros, porém, eram exatamente como Natalie
lembrava. O sorriso confiante também. Ele deu um passo em direção a ela, apoiando-se
na perna ferida, e parou.
— Maimônides — disse, simpático. — É tão bom vê-la de novo.
Natalie segurou o detonador com força. Sob seus pés, a terra queimava.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1