— Amit — disse ela, enfim. — Meu nome é Amit.
— Amit do quê?
— Meridor.
— De onde você é?
— De Jaffa.
— Como aprendeu a falar árabe tão bem?
— Há muitos árabes em Jaffa.
— E seu francês?
— Morei em Paris muitos anos quando era criança.
— Por quê?
— Meus pais trabalham no Ministério das Relações Exteriores.
— Você é médica?
— Uma médica excelente.
— Quem recrutou você?
— Ninguém. Eu me inscrevi para trabalhar no Escritório.
— Por quê?
— Queria servir meu país.
— Esta é sua primeira operação?
— Não, claro que não.
— Os franceses estavam envolvidos nesta operação?
— Nunca trabalhamos com outros serviços. Preferimos trabalhar sozinhos.
— Azul e branco? — perguntou Saladin, citando um dos slogans das instituições
militares e de segurança de Israel.
— Sim — respondeu Natalie, assentindo lentamente. — Azul e branco.
Apesar das exigências da situação, Saladin insistiu que o rosto dela estivesse velado
apropriadamente durante o interrogatório. Não havia abaya no chalé, então a cobriram
com um lençol tirado de uma das camas. Ela podia imaginar como parecia a eles, uma
figura tristemente cômica coberta de branco, mas o pano tinha a vantagem de oferecer
privacidade. Ela mentiu com a total confiança de que Saladin não podia ver sinais
reveladores de trapaça em seus olhos. E conseguiu transmitir um senso de calma
interior, até de paz, quando, na verdade, só pensava na dor que sentiria quando a lâmina
da faca encontrasse seu pescoço. Com a visão obscurecida, seu sentido de audição ficou
aguçado. Ela conseguia ouvir os movimentos sofridos de Saladin pela sala de estar do
chalé e discernir a posição dos quatro terroristas armados. E conseguia ouvir, bem
acima do chalé, o sobrevoo lento e preguiçoso de um monomotor. Saladin, sentiu ela,
também ouvia. Ele ficou em silêncio por um momento até o avião ir embora, e então
prosseguiu com seu interrogatório.
— Como você conseguiu se transformar de forma tão convincente em uma palestina?
— Temos uma escola especial.
— Onde?
— Em Negev.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1