A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

puxado para o bege, quadris largos e um temperamento herdado de Ari Shamron, seu
tio. Gabriel a conhecia desde que ela era criança. Suas lembranças mais afetuosas de
Rimona eram de uma garota destemida em uma lambreta, descendo descontroladamente
pela entrada íngreme da casa do tio famoso.
Os cinco agentes de campo e analistas eram membros de uma equipe de elite
conhecida como Barak, palavra hebraica para raio, pois tinham a habilidade de se reunir
e atacar rapidamente. Todos tinham lutado e, por vezes, sangrado juntos em uma série
de campos de batalha de Moscou ao Caribe e, no processo, executado algumas das mais
lendárias operações da história da inteligência israelense. Gabriel era fundador e líder da
equipe, mas um sexto membro, Dina Sarid, era a consciência e memória institucional do
grupo. Dina era a principal especialista em terrorismo do Escritório, uma base de dados
humana capaz de recitar horário, local, criminosos e número de vítimas de cada atentado
terrorista palestino ou islâmico contra Israel e o Ocidente. Seu talento especial era ver
ligações onde outras pessoas viam apenas uma tempestade de nomes, números e
palavras.
Ela era baixa e tinha um cabelo preto-carvão que caía ao redor de um rosto suave e
infantil. No momento, estava parada em frente a uma colagem aparentemente aleatória de
fotos de vigilância, e-mails, mensagens de texto e conversas telefônicas. Estava na mesma
posição de três horas antes, quando Gabriel saíra do apartamento para seu encontro com
Paul Rousseau. Dina estava tomada pela febre, pela aterradora ira criativa que a
dominava cada vez que uma bomba explodia. Muitas vezes, Gabriel já induzira essa febre
que, a julgar pela expressão dela, estava prestes a ceder. Ele atravessou a sala e parou ao
lado de Dina.
— O que você está olhando? — perguntou após um momento.
Dina deu dois passos para a frente, mancando levemente, e apontou para uma foto de
vigilância de Safia Bourihane tirada antes da primeira viagem à Síria, em um café de
estilo árabe na banlieue de Saint-Denis, altamente povoada por imigrantes. Safia tinha
adotado o véu recentemente. Sua companheira, uma jovem, também estava coberta.
Havia várias outras mulheres no café, além de quatro homens, argelinos e marroquinos,
dividindo uma mesa próxima ao balcão. Outro homem, de rosto angular, barba feita,
meio fora de foco, estava sentado sozinho. Vestia um terno sem gravata e trabalhava em
um notebook. Podia ser árabe — ou podia ser francês ou italiano. Naquele momento,
Dina Sarid não estava preocupada com ele. Estava olhando, hipnotizada, para o rosto de
Safia Bourihane.
— Ela parece normal, não parece? Feliz, até. Ninguém suspeitaria que passou a
manhã toda falando com um recrutador do ISIS pela internet. O recrutador pediu que
ela deixasse a família e viajasse à Síria a fim de ajudar a construir o califado. E o que você
acha que a Safia respondeu?
— Que queria ficar na França. Respondeu que queria se casar com um garoto legal
de uma boa família e ter filhos que seriam criados como cidadãos franceses totalmente

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