A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

íngremes como a pista de esqui da Highway 1. Fareed Barakat certamente teria achado
esses sentimentos curiosos. Dizia-se que ele, certa vez, prendera seu próprio mordomo
por permitir que seu chá Earl Grey ficasse em infusão por um minuto a mais.
Após um longo tempo, Fareed levou o assunto da conversa para a situação no
boulevard Rei Saul. Ouvira falar da promoção iminente de Gabriel e da desgraça
iminente de Uzi Navot. Também ouvira — recusou-se a dizer onde — que Gabriel
pretendia manter Navot em alguma função. Achava essa ideia péssima, horrenda, por
sinal, e disse isso a Gabriel.
— Melhor limpar tudo e começar do zero.
Gabriel sorriu, elogiou Fareed por sua astúcia e sabedoria, e não disse nada mais
sobre o assunto. O jordaniano também ouvira falar que Gabriel recentemente se tornara
pai novamente. Apertando um botão, chamou um ajudante, que entrou no escritório
segurando duas caixas de presente embrulhadas, uma enorme e a outra bem pequena.
Fareed insistiu que Gabriel abrisse ambas em sua presença. Na caixa grande, havia um
carrinho de brinquedo motorizado da Mercedes; na segunda caixa, a menor, um colar de
pérolas.
— Espero que não esteja ofendido pelo carro ser alemão.
— Nem um pouco.
— As pérolas são da Mikimoto.
— Bom saber — Gabriel fechou a caixa. — Não posso aceitar isso.
— Precisa aceitar. Senão, ficarei profundamente ofendido.
Gabriel de repente se arrependeu de ter vindo a Amã sem presentes de sua parte. Mas
o que se podia dar a um homem que prendera seu mordomo por manejar de forma
errada um bule de chá? Gabriel só tinha as fotografias, que pegou da maleta. A primeira
mostrava um homem caminhando por uma rua do leste de Londres com uma bolsa de
livros no ombro; um homem que podia ser árabe, francês ou italiano. Sem falar nada,
Gabriel entregou a fotografia a Fareed Barakat, que a olhou de relance.
— Jalal Nasser — disse, devolvendo a fotografia a Gabriel com um sorriso. — Por
que demorou tanto, meu amigo?

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