A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

para retomar Jerusalém dos muçulmanos, que ele considerava um povo “estranho a
Deus”. Os soldados cristãos, que viriam a ser conhecidos como cruzados, romperam as
defesas da cidade na noite de 13 de julho de 1099 e massacraram seus habitantes, incluindo
três mil homens, mulheres e crianças que tinham se abrigado dentro da grande Mesquita
de al-Aqsa, no Monte do Templo.
Seria Saladin filho de um mercenário curdo de Tikrit, que devolveria o favor. Tendo
humilhado os sedentos cruzados na Batalha de Hattin, perto de Tiberíades — o próprio
Saladin cortou o braço de Reinaldo de Châtillon —, os muçulmanos retomaram
Jerusalém depois de uma rendição negociada. Saladin arrancou a grande cruz erigida no
topo do Domo da Rocha, lavou os pátios com água de rosas para remover os últimos
traços imundos dos infiéis e vendeu milhares de cristãos como escravos ou para haréns.
Jerusalém continuaria sob controle islâmico até 1917, quando os britânicos a tomaram
dos turcos otomanos. E, quando o Império Otomano caiu, em 1924, caiu também o
último califado.
Mas, agora, o ISIS declarava um novo califado, que, por enquanto, incluía apenas
porções do oeste do Iraque e do leste da Síria, tendo Raqqa como capital. E Saladin, o
novo Saladin, era o chefe de operações externas do ISIS —ou assim acreditavam Fareed
Barakat e o Departamento Geral de Inteligência jordaniano. Infelizmente, o DGI não
sabia quase mais nada sobre ele, nem sequer seu nome verdadeiro.
— Ele é iraquiano?
— Pode ser. Ou pode ser tunisiano, saudita, egípcio, inglês ou qualquer um dos
outros lunáticos que correram para a Síria a fim de viver nesse novo paraíso islâmico
deles.
— Certamente, o DGI não acredita nisso.
— Não acreditamos — confessou Fareed. — Achamos que ele é, provavelmente, um
ex-oficial militar iraquiano. Quem sabe? Talvez seja de Tikrit, como Saladin.
— E como Saddam.
— Ah, sim, não podemos esquecer Saddam — Fareed exalou uma baforada de
fumaça em direção ao teto alto de seu escritório. — Tivemos nossos problemas com
Saddam, mas avisamos que os americanos iam amaldiçoar o dia em que o derrubassem.
Eles não ouviram, claro. Também não ouviram quando pedimos que fizessem algo a
respeito da Síria. “Não é problema nosso”, disseram. “Estamos deixando o Oriente
Médio para trás. Chega de guerras americanas em terras muçulmanas.” E agora veja a
situação. Quase trezentos mil mortos; outras centenas de milhares fugindo para a
Europa; a Rússia e o Irã trabalhando juntos para dominar o Oriente Médio — ele
balançou lentamente a cabeça. — Esqueci alguma coisa?
— Esqueceu Saladin — respondeu Gabriel.
— O que quer fazer sobre isso?
— Suponho que poderíamos não fazer nada e ter esperança de que ele vá embora.
— Ficar na esperança foi o que o deixou chegar até aqui, para começo de conversa —
disse Fareed — Esperança e arrogância.

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