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CENTRO MÉDICO HADASSAH, JERUSALÉM
inguém lembrava precisamente quando começara. Podia ter sido com o motorista
árabe que atropelou três adolescentes judeus perto de um assentamento da Cisjordânia,
ao sul de Jerusalém. Ou com o comerciante árabe que esfaqueou dois estudantes de um
seminário rabínico perto do Portão de Damasco, na Cidade Antiga. Ou com o
trabalhador árabe de um hotel de luxo que tentou envenenar um parlamentar de Ohio em
visita oficial. Inspirados pelas palavras e pelos feitos do ISIS, frustrados pelas promessas
de paz que foram quebradas, muitos jovens palestinos estavam literalmente fazendo
justiça com as próprias mãos. Era uma violência de baixo nível, profundamente pessoal e
difícil de ser impedida. Um árabe com um colete suicida é fácil de detectar. Um árabe
com uma faca de cozinha ou com um carro é um pesadelo de segurança, especialmente se
esse árabe estiver disposto a morrer. A natureza aleatória dos ataques perturbara
profundamente o público israelense. Uma pesquisa recente descobrira que a maioria
declarou ter medo de ser atacada na rua. Muitos já não frequentavam locais em que
árabes pudessem estar presentes, uma proposta difícil numa cidade como Jerusalém.
Invariavelmente, os feridos e moribundos eram levados às pressas para o Centro
Médico Hadassah, principal instalação para o tratamento de trauma nível 1 em Israel. A
ótima equipe de médicos e enfermeiras do hospital, localizado no oeste de Jerusalém
Ocidental, na vila árabe abandonada de Ein Kerem, cuidava rotineiramente das vítimas
do conflito mais antigo do mundo — os sobreviventes destroçados de atentados
suicidas, os soldados das Forças de Defesa de Israel feridos em combate, os protestantes
árabes atingidos por fogo israelense. Os funcionários não faziam distinção entre árabes e
judeus, vítimas e criminosos; tratavam todos os que entravam pela porta, incluindo
alguns dos mais perigosos inimigos do país. Não era incomum ver um membro sênior
do Hamas no Hadassah. Até os governantes sírios, antes da eclosão da guerra civil,
mandavam seus enfermos influentes para os morros de Ein Kerem.
Segundo a tradição cristã, Ein Kerem era o local de nascimento de João Batista.
Torres de igrejas se viam acima das velhas e baixas residências de calcário dos árabes
desaparecidos, e os sinos anunciavam a passagem dos dias. Entre a velha vila e o
hospital moderno ficava um estacionamento reservado para os médicos mais antigos e
para administradores. A dra. Natalie Mizrahi ainda não tinha permissão de parar ali; o
espaço dela ficava em um lote adjacente distante, na beira de uma alta ribanceira. Ela
chegou às oito e meia e, como sempre, teve de esperar vários minutos pelo serviço de