— De fato.
Girard deu uma risada seca.
— Receio que seu amigo em Roma o tenha enganado, pois esta galeria não negocia
com antigüidades roubadas ou saqueadas. É uma violação do código de ética de nossa
associação, para não falar da lei suíça.
— Na verdade, a lei suíça permite que você adquira uma obra que você acredite não
ser roubada. E estou dando a minha garantia, Herr Girard, de que este vaso é o resultado de
cinco anos de trabalho.
— Perdoe-me por não estar disposto a aceitar a palavra de um homem que não tem
endereço nem número de telefone.
Foi uma performance impressionante, porém apresentou um único defeito: os olhos de
David Girard estavam fixos no fragmento de cerâmica. Gabriel já passara tempo suficiente em
meio a negociantes de arte para saber que seu alvo já calculava uma oferta. Tudo o que ele
precisava, pensou, era um incentivo.
— Para ser justo, Herr Girard — falou Gabriel —, devo avisá-lo que outros
indivíduos estão interessados em adquirir o vaso. Mas eu vim a St. Moritz porque me foi dito
que você é capaz de transportar mercadorias deste tipo com um único telefonema.
— Infelizmente, acho que você está superestimando minhas habilidades.
Gabriel sorriu, mostrando descrença.
— Sua lista de clientes no Oriente Médio é lendária no ramo, Herr Girard. Sem dúvida
você tem meios de criar uma proveniência que satisfaça um deles. Por minha estimativa, o
vaso restaurado vale 400 mil francos suíços. Eu estaria disposto a aceitar 100 mil pelos
fragmentos e você teria um lucro de 300 mil. — Outro sorriso. — Nada mal. Basta ligar para
Riad ou Dubai.
O negociante caiu num silêncio contemplativo, não mais fingindo desinteresse.
— Cinqüenta mil — ofereceu. — A serem pagos quando a venda for efetuada.
Gabriel colocou o fragmento de volta no tecido.
— Se você quiser o vaso, Herr Girard, terá que me pagar o dinheiro adiantado. E o
preço não é negociável.
— Preciso de tempo.
— Você tem 24 horas.
— Como posso encontrá-lo?
— Não pode. Ligarei amanhã às cinco horas para saber sua resposta. Se for sim,
entregarei os fragmentos às seis, em troca do pagamento integral. Se for não, desligarei o
telefone e você não voltará a me ver.
A equipe alugou um agradável chalé de madeira na encosta nevada de uma montanha
acima do vilarejo para servir de esconderijo, pagando uma pechincha de 5 mil francos suíços
por noite. Quando Gabriel chegou, todos o receberam com aplausos. Em seguida,
reproduziram a gravação de um telefonema que David Girard tinha acabado de dar para um
colega em Hamburgo, buscando informações sobre um homem chamado Anton Drexler.
— Eu posso estar enganado — falou Eli Lavon, sorrindo —, mas parece que entramos
no jogo.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1