ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Dessa forma, a operação entrou na fase que a equipe chamava de "abordagem final".
Eles tinham o alvo, o plano, as tarefas divididas. Agora tudo o que faltava era pousar o avião
sem matar ninguém. Não havia um computador a bordo para orientá-los, logo teriam que
confiar nos próprios instintos. Tentariam reduzir ao mínimo o acaso. Gabriel acreditava que,
em serviço, a sorte devia ser conquistada; não era algo com que se contasse apenas. E
normalmente ela se conquistava com planejamento e preparações minuciosas.
No léxico do Escritório, aquela operação era do tipo "rodas pesadas", o que
significava que diversos veículos de diferentes marcas e modelos teriam que ser
providenciados. Transportes, a divisão do Escritório que cuidava dessas questões, adquiriu a
maior parte deles com agências de locação européias amistosas, de forma que impossibilitava
o rastreamento dos veículos até por um membro da equipe. O veículo mais importante, no
entanto, era do próprio Escritório: um furgão com um compartimento oculto para armazenar
pessoas que desempenhara um papel importante numa das operações mais célebres de Gabriel
— a captura do criminoso de guerra nazista Erich Radek em sua casa, no Primeiro Distrito de
Viena. Chiara o dirigira naquela noite. Radek ainda aparecia regularmente em alguns de seus
piores pesadelos.
Para sua tristeza, Chiara não iria para Berlim, embora seu papel na operação ainda
fosse central. Sua tarefa era coordenar a taqiyya que esconderia os rastros da equipe e que, se
fosse bem-sucedida, despistaria tanto os alemães como os iranianos. Como todas as boas
mentiras, essa era plausível e tinha elementos verdadeiros. E talvez, disse Gabriel, também
trouxesse uma esperança para o futuro — um futuro onde o Irã não estivesse mais sob o
controle de uma quadrilha de lunáticos religiosos. Os mulás e seus seguidores na Guarda
Revolucionária não eram racionais, mas imprevisíveis e apocalípticos. O Oriente Médio
nunca ficaria em paz enquanto eles não fossem eliminados.
Também havia outras mentiras, como a mochila de lona cheia de argila cinza, fios, um
timer e um pequeno explosivo no formato de uma concha que faria muito mais barulho que
estrago. Mas tudo isso só seria útil se eles conseguissem tirar Massoud de seu carro com um
mínimo de violência. Após muita deliberação, ficou decidido que Yaakov lideraria o ataque e
Oded iria ajudá-lo. Interrogador profissional de terroristas, Yaakov tinha uma postura e uma
expressão que deixavam poucas dúvidas acerca da validade de suas ameaças. E, o que era
mais importante, descendia de judeus alemães e falava alemão fluente. Seu papel seria
convencer Massoud a sair do carro. E, se palavras não bastassem, Oded usaria de força.
Eles não se atreveram a ensaiar em público, então conduziram intermináveis treinos
dentro do esconderijo em Wannsee. No começo, Gabriel manteve uma postura profissional,
mas, conforme os treinos se prolongaram, seu humor se tornou instável. Mikhail temeu que ele
estivesse sofrendo uma ressaca operacional devido ao bombardeio em St. Moritz ou ao
pesadelo na Arábia Saudita. Mas Lavon sabia a verdade. Era Berlim, explicou. Berlim era
uma cidade de fantasmas para todos eles, mas em especial para Gabriel. Tinha sido o lar de
seus avós maternos e provavelmente teria sido o seu próprio lar se não fosse pelo bando de
assassinos que haviam se reunido naquela casa à beira do lago a alguns metros de distância.
Portanto, toda a equipe ouviu com uma paciência admirável Gabriel reclamar de cada
aspecto do plano pelo que parecia ser a centésima vez. E tentaram manter uma postura séria e

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