ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Um quilômetro e meio para o oeste, no apartamento da rua Narkiss, Chiara
acompanhava a cobertura ao vivo da procissão da Sexta-Feira Santa pela televisão israelense.
Pouco tempo antes, enquanto o papa conduzia as orações na oitava estação, ela vira Gabriel
falando no celular. Agora o Santo Padre seguia solenemente da oitava para a nona estação e
Gabriel não estava mais a seu lado. Chiara encarou a tela por um tempo antes de pegar o
telefone e discar para o escritório de Navot no King Saul Boulevard. Orit atendeu.
— Ele já ia ligar para você, Chiara.
— O que está acontecendo?
— Ele está a caminho de Jerusalém. Espere um instante.
Chiara sentiu o estômago se contorcer quando Orit a colocou na espera. Navot atendeu
segundos depois.
— Onde ele está, Uzi?
— E complicado explicar.
— Droga, Uzi! Onde ele está?
Embora Navot não soubesse, naquele instante Gabriel estava agachado na beira da vala
de escavação ao lado de Lavon. Embaixo deles, reluziam os ossos brancos e desgastados de
Rivka, testemunha do cerco romano a Jerusalém e da destruição do Segundo Templo de
Herodes. Mas, no momento, Lavon esquecera completamente dela; tinha olhos apenas para a
pequena imagem na tela do celular de Gabriel, que mostrava David Girard, numa espécie de
câmara subterrânea ao lado de Hassan Darwish.
— Aquilo no fundo são pilares?
— Os pilares não têm importância agora, professor.
— Desculpe.
Lavon inspecionou a segunda imagem, com o trapézio e o número.
— Faria sentido — disse ele, após um momento.
— O quê?
— Que a câmara onde eles estão fique nesse pedaço do monte. O solo embaixo do
Domo da Rocha e da entrada para a Mesquita de Al-Aqsa está repleto de canais, poços e
cisternas.
— Como você sabe isso?
— Charles Warren relatou.
Sir Charles Warren era o brilhante agente dos Engenheiros Reais, da Inglaterra, que
realizou o primeiro e único levantamento topográfico do Monte do Templo entre 1867 e 1870.
Seus mapas e desenhos com detalhes meticulosos ainda servem de base para arqueólogos
modernos.
— Warren encontrou 37 cisternas e estruturas subterrâneas no Monte do Templo —
explicou Lavon. — Além de várias passagens e aquedutos. Os maiores ficavam ao redor do
ponto indicado neste mapa. Há uma cisterna imensa nessa área, chamada de Grande Mar, que
foi esculpida nos alicerces de pedra calcária. Um artista chamado William Simpson produziu
uma ilustração dela recentemente. — Lavon ergueu os olhos. — É possível que Girard e o imã
estivessem lá.
— Nós conseguiríamos chegar ao local?

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