ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

PARTE QUATRO


EGO TE ABSOLVO


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Jerusalém
Uma hora após a incursão israelense no cume do Monte do Templo, a Terceira Intifada
irrompeu nos territórios palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. A princípio, as forças
de segurança bem armadas da Autoridade Palestina tentaram controlar a violência. Mas,
quando imagens de tropas israelenses no Haram al-Sharif se alastraram pelo mundo árabe, as
milícias se uniram aos manifestantes e entraram no conflito. Houve tiroteios intensos em
Ramallah, Jerico, Nablus, Jenin e Hebron, mas o pior dos confrontos se deu no leste de
Jerusalém, onde milhares de árabes tentaram, sem sucesso, retomar o Monte do Templo. Ao
pôr do sol, no momento em que as sirenes anunciaram a chegada do sabá, o terceiro santuário
mais sagrado do Islã estava sob controle israelense, e o Oriente Médio parecia perigosamente
próximo da guerra.
O rei da Jordânia, descendente direto do Profeta Maomé, exigiu que os judeus se
retirassem do Nobre Santuário, e por pouco não chegou a apelar para o uso da violência.
Porém, o mesmo não se deu no Cairo, onde a Irmandade Muçulmana — os novos líderes da
nação mais populosa do mundo árabe — conclamou um jihad de todo o Islã para vingar o
ultraje. O Hamas, um braço da Irmandade, logo atacou Berseba e várias outras cidades
israelenses com uma série de foguetes que mataram dez civis. No Líbano, o Hezbollah
manteve um silêncio incomum, assim como seus mestres xiitas em Teerã.
Entre os muitos desafios enfrentados pelos oficiais israelenses durante aquelas
primeiras horas explosivas, estava a presença do papa Paulo VII. Com a Cidade Antiga agora
transformada numa zona de guerra, ele se abrigou num monastério em Ein Kerem, o vilarejo
antigamente povoado por árabes próximo ao centro de Jerusalém onde, de acordo com a
tradição cristã, nascera João Batista. A pedido do primeiro-ministro israelense, Sua Santidade
concordou, ainda que relutante, em cancelar os planos de celebrar a missa do Sábado de
Aleluia no Monte das Bem-Aventuranças e de fazer as preces da Páscoa na Igreja do Santo
Sepulcro. Infelizmente, o Santo Padre não teve escolha. O santuário cristão que Saladino quis
destruir era um dos principais alvos da fúria muçulmana.
Muitos na comitiva papal suplicaram ao pontífice que retornasse à segurança do
Vaticano, mas ele insistiu em ficar, na esperança equivocada de que sua presença ajudasse a
acalmar os ânimos. Ele passou boa parte do tempo no Centro Médico Hadassah, localizado
numa região próxima ao monastério. As visitas constantes do papa ao hospital geraram
especulações de que ele estivesse doente ou tivesse sido ferido. Não era verdade: ele estava
apenas confortando uma alma necessitada.

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