O paciente em questão chegara ao hospital nos primeiros minutos após o levante, com
um buraco de bala no peito e mais morto do que vivo. Foi dito à equipe que seu nome era
Weiss, mas eles não receberam nenhuma outra informação, a não ser a idade aproximada e o
histórico médico, que incluía vários tratamentos relacionados a estresse. As persianas das
janelas com vista para o leste, na direção dos muros da Cidade Antiga, permaneceram
fechadas. Dois guardas armados vigiavam a porta, um de cada lado.
O papa não foi o único dignitário a visitar o homem ferido. O primeiro-ministro veio
vê-lo, assim como o chefe de gabinete das Forças Armadas, os líderes de diversos serviços
israelenses de inteligência e, por razões que nunca ficaram muito claras para a equipe do
hospital, uma grande delegação de arqueólogos da Universidade Hebraica e da Autoridade de
Antigüidades de Israel. Um homem, no entanto, não abandonou nem por um momento o leito do
paciente. Ele não fez qualquer tentativa de esconder sua identidade, pois isso não teria sido
possível — não com aqueles cabelos grisalhos nas têmporas e olhos inesquecíveis.
Ele bebeu pouco, comeu ainda menos e não dormiu nada. Um dos médicos lhe ofereceu
uma cama e um leve sedativo, mas recebeu em troca apenas um olhar de desaprovação.
Depois disso, ninguém se atreveu a pedir que ele fosse embora, nem mesmo na segunda noite,
quando, por dois terríveis minutos, o coração do paciente parou de bater. Pelas 24 horas
seguintes, o visitante permaneceu completamente imóvel ao pé da cama, seu rosto iluminado
pelas luzinhas dos aparelhos, como se ele fizesse parte de um retrato de Caravaggio. Às vezes,
as enfermeiras o escutavam falando numa voz suave. Suas palavras nunca mudavam:
— Não morra, Eli. Por favor, Eli, não morra.
Na manhã da Páscoa, mal se ouviam os sinos das igrejas em Jerusalém, abafados pelos
tiroteios. Ao meio-dia, um foguete palestino caiu no Jardim do Getsê— mani e, meia hora
depois, o exterior da Igreja da Dormição foi varado de balas. Naquela noite, o Santo Padre,
perturbado, fez uma última visita ao paciente inconsciente antes de embarcar no avião que o
levaria de volta para casa. Após sua partida, outro idoso tomou seu lugar. Ele também era
conhecido da equipe do centro de traumatologia. Falavam dele apenas por sussurros.
Shamron...
— Você precisa ir para casa e descansar um pouco, filho.
— Eu vou.
— Quando?
— Quando ele abrir os olhos.
Shamron girava o isqueiro entre os dedos. Duas voltas para a esquerda, duas para a
direita.
— Precisa fazer isso, Ari?
Shamron parou.
— Você tem que se preparar para o pior.
— Por que eu faria isso?
— Porque é o mais provável. No momento em que o colocaram na mesa de cirurgia,
ele já tinha perdido quase todo o sangue. O coração dele...
— Está ótimo.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1