ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

Ainda se passariam 72 horas até que a ordem fosse minimamente restabelecida e o
governo de Israel pudesse explicar ao mundo por que entrara no Monte do Templo e o que
descobrira lá. O governo reuniu um grupo de jornalistas das empresas mais confiáveis do
mundo e o conduziu pelas redes de aquedutos e cisternas até a nova câmara escavada 50
metros abaixo do solo. O chefe de gabinete das Forças Armadas mostrou a bomba e o líder da
Autoridade de Antigüidades expôs a notável coleção de artefatos desenterrada pelo Waqf no
decorrer de anos de escavações negligentes. O destaque da excursão foram as duas fileiras de
pilares de pedra calcária, 22 no total, que outrora fizeram parte do heikhal do Primeiro
Templo de Jerusalém do Rei Salomão.
Como esperado, a reação às notícias foi bem variada. O vídeo dos pilares antigos
eletrizou o público israelense e a comunidade global de arqueólogos e historiadores. A maior
parte dos estudiosos aceitou a autenticidade das colunas, mas, na Alemanha, o coordenador de
uma disciplina de arqueologia conhecida como minimalismo bíblico os desconsiderou,
chamando-as de "22 fragmentos de pensamento positivo". Ninguém ficou muito surpreso
quando os líderes da Autoridade Palestina se aproveitaram da declaração ao elaborar a
própria resposta aos noticiários. Os pilares eram um embuste dos israelenses, disseram.
Assim como a "suposta bomba".
Porém, o que levara os israelenses a entrarem no Monte do Templo? E quem fora o real
arquiteto da conspiração para derrubá-lo? O governo israelense, seguindo a tradição de não
fazer comentários sobre questões relacionadas à inteligência, recusou-se a entrar em detalhes.
Mas, conforme os pilares foram sendo retirados do solo, uma série de matérias começou a
jogar um pouco de luz sobre os misteriosos acontecimentos que levaram à sua descoberta.
O Le Monde contou a história de um homem graduado pela Sorbonne chamado David
Girard, também conhecido como Daoud Ghandour, que aconselhara o Waqf em questões
arqueológicas e, de acordo com agentes não identificados da polícia, era membro de uma rede
de contrabando de antigüidades vinculada ao Hezbollah. O Neue Zürcher Zeitung revelou uma
conexão do Irã com o bombardeio da Galeria Naxos em St. Moritz. E a investigação no Der
Spiegel vinculou Girard a Massoud Rahimi, o terrorista iraniano mantido em cativeiro por um
breve período na Alemanha. Apenas doze dias depois, ele foi morto em Teerã por uma bomba
plantada embaixo de seu carro. Os comentaristas na televisão tinham poucas dúvidas sobre
quem estava por trás do assassinato, ou qual era seu significado. Massoud fora o líder da
conspiração do Monte do Templo, anunciaram, e os israelenses apenas retribuíram.
Contudo, a imprensa nunca tomaria conhecimento de muitos aspectos da história, como
o fato de que tudo começara com a entrada em cena de Gabriel Allon, chamado à Basílica de
São Pedro para investigar o cadáver de um anjo caído. Ou que Gabriel passara as duas
últimas semanas sentado ao lado do leito do arqueólogo cujo sangue manchava os pilares do
Templo de Salomão. Por fim, o moribundo abriu os olhos.
— Rivka — murmurou Lavon. — Certifique-se de que alguém cuide de Rivka.
Na mesma noite, uma calmaria tensa caiu sobre Jerusalém pela primeira vez desde o
começo da crise no Monte do Templo. Gabriel foi ao hospital psiquiátrico no monte Herzl
passar alguns minutos com Leah antes de jantar com Chiara num restaurante no campus

Free download pdf