instante. — Por quanto tempo será necessário manter essa mentira terrível sobre minha irmã?
— Até a verdade ser descoberta. Mas eu não posso descobri-la sozinho. Vou precisar
de sua ajuda.
— Que tipo de ajuda?
— Você pode começar me contando sobre sua irmã.
— E depois?
— Vamos vasculhar esse apartamento juntos, mais uma vez.
— Achei que você tivesse dito que os homens eram profissionais.
— E eles são, mas às vezes até mesmo profissionais erram.
Os três foram para a sala e se acomodaram em meio aos livros e documentos de
Claudia. Paola falou de sua irmã como se estivesse falando de si mesma. Para Gabriel, foi
como entrevistar um cadáver prolixo.
— Ela usava outro e-mail além da conta do Vaticano?
— Todos no Vaticano têm uma conta pessoal. Especialmente os padres.
Ela deu um endereço do Gmail. Gabriel não precisou anotá-lo; sua habilidade
excepcional de imitar as pinceladas dos Velhos Mestres era igualada apenas pela precisão de
sua memória. Além do mais, pensou, quando uma pessoa decide enfrentar profissionais, é
melhor se comportar de acordo.
Terminada a entrevista, eles vasculharam o apartamento. Chiara e Paola verificaram o
quarto e Gabriel cuidou da escrivaninha. Ele fez a busca da mesma maneira que imaginou que
tivesse sido feita nas horas seguintes à morte de Claudia: gaveta por gaveta, arquivo por
arquivo, página por página. Apesar do trabalho minucioso, não encontrou nada que desse
motivo para a mulher ser morta.
Mas os homens que chegaram antes de Gabriel haviam de fato cometido um erro: eles
saíram do prédio sem esvaziar a caixa de correio de Claudia. Gabriel pegou as cartas da
bolsa de Chiara e passou pela correspondência até encontrar uma fatura de cartão de crédito.
As cobranças davam um vislumbre da típica vida romana, preservada para sempre, como
escombros arqueológicos, na memória de algum computador. Nenhum gasto chamou atenção,
exceto um. Duas semanas antes de morrer, Claudia ficara uma noite num hotel em Ladispoli,
um resort monótono à beira-mar logo ao norte de Roma. Gabriel já tinha passado por aquela
cidade uma vez e só se lembrava de restaurantes medíocres e da praia cor de asfalto. Ele
colocou a conta de volta no envelope e passou vários minutos sentado, com uma única
pergunta se revirando em sua mente. Por que uma mulher como Claudia Andreatti pernoitaria
num hotel na costa italiana, a trinta minutos de seu próprio apartamento, em pleno inverno? Só
havia duas explicações possíveis. A primeira envolvia amor. A segunda era a razão pela qual
ela fora morta.
7
Vaticano