mesa da lanchonete até a noite cair sobre a rua estreita, imaginando se tinha acabado de
cometer seu primeiro erro.
Há poucos empregos mais ingratos do que ser declarado chefe de um posto do
Escritório na Europa Ocidental. Shimon Pazner, líder da embaixada israelense em Roma,
notável pela grande quantidade de funcionários, carregou esse fardo por mais tempo que a
maior parte de seus antecessores. Seu mandato havia coincidido com um gigantesco declínio
na posição pública de Israel em meio a europeus de todas as origens. Antes, seu país
costumava ser considerado uma pequena irritação; agora, quase todos os europeus viam o
empreendimento sionista com desdém e desprezo. O Estado de Israel não era mais um bastião
da democracia em meio ao inquieto Oriente Médio, mas, sim, um trapaceiro, um intruso e uma
ameaça à paz mundial. Famoso por sua falta de diplomacia, Pazner fez pouco para ajudar a
causa. Sua conduta em reuniões ocupava uma posição alta na lista de queixas dos italianos.
Sua resposta-padrão quando questionado acerca de táticas e operações israelenses era
lembrar a seus colegas que, não fosse pela conduta deplorável dos europeus, Israel nunca teria
existido.
Gabriel encontrou Pazner sentado sozinho num banco de pedra do lado de fora da
Galeria Borghese. Baixo e robusto, ele tinha cabelos grisalhos e um rosto que lembrava uma
pedra-pomes. Cumprimentou Gabriel secamente em italiano e sugeriu uma caminhada. Os dois
seguiram na direção oeste, atravessando jardins ao longo de uma trilha cercada de pinheiros.
O ar frio carregava o cheiro pesado de folhas úmidas, madeira queimada e comida sendo feita
— o aroma típico de Roma numa noite de inverno. Pazner estragou o ambiente ao acender um
cigarro. Seu humor parecia pior que o normal, mas com ele era difícil ter certeza. Roma o
irritava. Para Pazner, o lugar nunca seria nada além do centro de um império que destruiu o
Segundo Templo e provocou a diáspora. Era um homem com uma memória duradoura e
propenso a alimentar ressentimentos. Gabriel era alvo de diversos deles.
— Imagino que sua ligação foi apenas uma coincidência — disse ele, afinal. — Nós
precisávamos falar com você.
— "Nós"?
— Não fique nervoso, Gabriel. Ninguém no King Saul Boulevard tem qualquer
intenção de tirar você da aposentadoria de novo, não depois do que você passou na Arábia
Saudita. Até o velho parece disposto a deixá-lo em paz desta vez.
— Tem certeza de que estamos falando do mesmo Ari Shamron?
— Ele não é mais o mesmo. — Pazner ficou em silêncio por um momento. — Longe de
mim dizer como você deveria viver sua vida, mas talvez seja uma boa idéia visitá-lo quando
tiver uma oportunidade.
— Qual foi a última vez que você o viu?
— Algumas semanas atrás, em Tel Aviv, no encontro anual dos chefes das embaixadas.
Shamron fez sua aparição tradicional no jantar da última noite. Ele costumava ficar a noite
inteira nos entretendo com histórias sobre os velhos tempos, mas desta vez eu tive a impressão
de que ele estava no piloto automático. Só consegui pensar em como as coisas eram em nossa
juventude. Lembra como ele era naquela época, Gabriel? O chão parecia tremer quando o
velho surgia.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1