ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

PARTE DOIS


CIDADE DE DEUS


17


Aeroporto Ben Gurion, Israel
No saguão de desembarque do Aeroporto Ben Gurion em Israel, há uma sala de
recepção especial reservada para o Escritório. Quando Gabriel e Chiara entraram nela, no fim
da tarde seguinte, ficaram surpresos ao encontrar lá apenas um homem. Ele estava sentado em
uma das várias poltronas de courino, com as pernas grossas cruzadas, lendo o conteúdo de
uma pasta de papel pardo à luz de uma lâmpada de halogênio. O homem vestia um terno
grafite, uma camisa com o colarinho aberto e óculos de prata pequenos demais para o seu
rosto. A impressão geral era de um executivo ocupado tirando um pouco do atraso no trabalho
entre um voo e outro, o que não estava muito longe da verdade. Desde que assumira o controle
do Escritório, Uzi Navot passava boa parte de seu tempo em aviões.
— A que devemos a honra? — perguntou Gabriel.
Navot ergueu os olhos do arquivo, como se estivesse surpreso com a interrupção.
— Não é todo dia que alguém tenta matar dois agentes do Escritório no centro de Roma
— respondeu ele. — Na verdade, parece que isso só acontece quando você está na cidade.
Navot colocou a pasta na maleta e se levantou devagar. Uzi tinha engordado muitos
quilos desde a última vez que Gabriel o vira, o que sugeria que ele não estava seguindo o
regime de dietas e exercícios imposto por sua exigente esposa, Bella. Ou então, pensou
Gabriel, olhando para os novos cabelos grisalhos na cabeça de Navot, talvez fosse o efeito do
estressante trabalho. O Estado de Israel se via diante de um mundo árabe em ebulição e
enfrentava incontáveis ameaças. No topo da lista, estava a perspectiva de um programa
nuclear iraniano prestes a dar frutos, apesar da guerra secreta de sabotagem e assassinatos
travada pelo Escritório e por seus aliados.
— Até que você não parece mal para alguém que escapou por pouco de uma tentativa
de assassinato — comentou Navot, erguendo uma sobrancelha.
— Você não diria isso se visse o hematoma no meu ombro.
— É isso que você ganha por entrar na casa de um homem como Cario Marchese sem
uma arma no bolso. — Navot fez uma expressão de censura. — Você devia ter falado com
Shimon Pazner antes de aceitar aquele convite. Ele podia ter lhe contado algumas coisas sobre
Cario que nem o monsenhor Donati sabe.
— Como o quê?
— Basta dizer que o Escritório está de olho em Cario faz algum tempo.
— Por quê?

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