ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

com a benevolência de seus patronos e precisava desenvolver um meio independente e
confiável de financiar suas operações. Não levou muito tempo para eles decidirem como
proceder.
— Crimes — disse Gabriel.
— Crimes grandes — confirmou Navot, pegando um dos biscoitos da bandeja.
— O Hezbollah é como uma família mafiosa com anabolizantes. Mas, via de regra, eles
buscam se ligar a outras organizações criminosas. — Ele pegou mais um biscoito. — Eles
estão envolvidos em tudo, desde o tráfico de cocaína na América do Sul até o contrabando de
diamantes no oeste da África. Também são bem ativos na venda de produtos falsificados, de
bolsas Gucci a DVDs.
— E são bons no que fazem — acrescentou Shamron. — Hoje o Hezbollah tem, no
mínimo, oitenta mil foguetes e mísseis capazes de alcançar cada centímetro quadrado de
Israel. Pode ter certeza que nenhum deles foi comprado com cupons de desconto. Esse
rearmamento está sendo financiado em grande parte por uma onda global de crimes. E Cario é
um dos patronos mais confiáveis do Hezbollah.
— Como você ficou sabendo dele?
Shamron encarou as próprias mãos por um tempo antes de responder.
— Há cerca de seis meses, nós identificamos um agente importante trabalhando na
captação de recursos para o grupo. Seu nome é Muhammad Qassem. Na época, ele era
funcionário do Banco Bizantino do Líbano. Nós o atraímos para o Chipre com uma mulher. Aí
foi só colocá-lo numa caixa e trazê-lo para cá na mesma hora.
Shamron apagou o cigarro.
— No interrogatório, Qassem contou tudo e mais um pouco sobre os empreendimentos
criminosos do Hezbollah, incluindo a parceria com uma figura do crime organizado italiano
até então desconhecida, um homem chamado Cario Marchese. De acordo com Qassem, o
relacionamento é complexo, mas tudo gira em torno de antigüidades saqueadas.
— E como o Hezbollah contribui com esse relacionamento?
— Você é o especialista no comércio ilegal de antigüidades. Diga você.
Gabriel se lembrou do que o general Ferrari dissera quando eles se reuniram na Piazza
di Sant'Ignazio, que a rede estava recebendo artefatos roubados do Oriente Médio.
— O Hezbollah gera um fluxo constante de produtos — disse ele. — O grupo está ativo
em algumas das regiões mais significativas do mundo em termos arqueológicos. Só o sul do
Líbano é uma mina de ouro em termos de antigüidades fenícias, gregas e romanas.
— Mas essas antigüidades não têm muito valor, a menos que possam ser levadas ao
mercado com uma proveniência aceitável — completou Shamron. — É aí que Cario Marchese
e sua rede entram. Pelo visto, ambos os lados estão se saindo muito bem.
— E Cario sabe com quem está fazendo negócios?
— Cario é, como dizem, um homem experiente.
— Quem administra a operação do lado do Hezbollah?
— Qassem não soube nos dizer.
— Por que vocês não foram até os italianos com essa questão?
— Nós fomos — respondeu Uzi Navot. — Eu fui pessoalmente.

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