ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— E qual foi a resposta?
— Cario tem amigos nos altos escalões. Tem vínculos com o Vaticano. Não podemos
tocar num homem como Cario com base na palavra de um banqueiro do Hezbollah que teve um
tratamento extrajudicial.
— Então você deixou passar.
— Nós precisamos da cooperação dos italianos em outras questões — replicou Navot.
— Mas tem sido difícil interromper o fluxo de dinheiro das redes criminosas do Hezbollah.
Eles se adaptam com incrível facilidade e são muito resistentes à penetração externa. Também
tendem a operar em países que não são amistosos aos nossos interesses.
— O que quer dizer — falou Shamron — que seu amigo Cario nos deu uma
oportunidade única. — Ele encarou Gabriel através de uma nuvem de fumaça. — A pergunta
é: você está disposto a nos ajudar?
E lá estava, pensou Gabriel. A porta aberta. Como sempre, Shamron não deixou outra
escolha além de seguir em frente.
— O que você tem em mente?
— Nós gostaríamos que você eliminasse uma das maiores fontes de financiamento de
um inimigo que jurou nos dizimar.
— Só isso?
— Não — respondeu Shamron. — Seria melhor para todos os envolvidos se você
também desse cabo de Cario Marchese.


18


Jerusalém
O dia seguinte foi uma sexta-feira, o que significava que Jerusalém, a cidadela partida
de Deus sobre a colina, estava mais ativa que no resto da semana. Ao longo da fronteira leste
da Cidade Antiga, da Porta de Damasco ao Jardim do Getsêmani, grades de metal refletiam o
sol forte do inverno, vigiadas por centenas de policiais israelenses com uniformes azuis. Fiéis
muçulmanos se aglomeravam na entrada do Haram al-Sharif, o terceiro ponto mais sagrado do
islã, para saber se teriam permissão para rezar na Mesquita de Al-Aqsa. Devido a uma série
de ataques recentes de foguetes do Hamas, as restrições estavam mais intensas que o habitual.
Mulheres e homens de meia-idade podiam passar, mas al-shabaab, os jovens, eram mandados
embora. Eles seguiam revoltados para os pequenos pátios ao longo da rua Porta dos Leões ou
do outro lado dos muros, na Estrada de Jericó, onde um imã salafista barbado garantia que sua
humilhação logo acabaria, que os judeus — os antigos e atuais lordes da terra duas vezes
prometida — tinham os dias contados.
Gabriel parou para ouvir o sermão e, então, percorreu a trilha que levava ao vale do
Cédron. Ao passar pela Tumba de Absalão, ele viu uma família grande de árabes vindo da
vizinhança de Silwan, no lado leste de Jerusalém. Todas as mulheres usavam o véu e o garoto
mais velho tinha uma semelhança marcante com um terrorista palestino que Gabriel matara
havia muitos anos, numa rua silenciosa no coração de Zurique. Eles caminhavam lado a lado,

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